Por Valdir Oliveira — Ex-Secretário de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal
Os fatos que aconteceram em Brasília envergonharam o Brasil. A revolta dos obtusos, por certo. Um lamentável episódio que será estudado nos livros de história como o dia em que os insatisfeitos com a escolha popular resolveram impor a proposta derrotada nas urnas, por meio da dilapidação dos prédios sede dos poderes da República. Danificaram valores, inclusive históricos, valiosos. Uma multidão organizada e manipulada para esse fim por aqueles que se escondem e colocam em risco vidas e patrimônio alheios para defesa de seus interesses. Triste capítulo da história brasileira.
A multidão golpista inflamada marchou em direção à Esplanada dos Ministérios escoltada pelas forças de segurança do Distrito Federal tal e qual uma tropa que se dirige ao campo de batalha, com gritos de ordem. E a guerra se instalou na Praça dos Três Poderes. Inacreditável como, de tão previsível, surpreendeu às autoridades do Distrito Federal. Toda a escalada preparatória nas redes sociais nos dias que antecederam essa tragédia histórica; e toda a narrativa, desde a chegada dos ônibus em Brasília. A convicção da tropa golpistas em relação à invasão da esplanada tornava claro o objetivo: ruptura da nossa democracia.
Não foi só a máquina estatal distrital que fraquejou na defesa da ordem. Ao que parece, houve a complacência daqueles que são investidos da missão de proteger a soberania nacional. Veio à minha lembrança o pedido de desculpas do general Mark Milley, maior autoridade militar americana, em 2020. Usado para interesses políticos pelo Presidente Trump, o General pediu desculpas por ter participado de um ato político, mostrando que as forças armadas americanas são entidades de Estado e não de Governo. Faltou essa reflexão às autoridades militares brasileiras. Silêncio estrondoso. Nenhuma palavra dita em defesa da democracia. Esse é o erro da politização de quem não deveria se deixar contaminar com os debates ideológicos. As instituições precisam ser independentes das pessoas que a comandam para evitar que sejam usadas para interesses pessoais e não da sociedade que representam.
Cabe à liderança a reflexão sobre os limites que devem seguir para não serem máquinas a serviço do governo de plantão ou de movimentos ideológicos. Ao que parece, perdemos esse limite no trágico domingo do atentado a nossa democracia em Brasília. Faltou comando. Faltou a autoridade que deveria impor o limite e a direção da tropa. E essa inépcia trouxe prejuízos materiais e imateriais incalculáveis, além de afrontar o nosso bem maior: a democracia. O vácuo produzido gerou a oportunidade de quem queria construir a narrativa do golpe, sem se preocupar em esconder suas digitais, como se a regra fosse um "golpe impresso e auditável". De vídeos produzidos antes, durante e depois do ataque, até minutas de documentos que materializariam o golpe de estado, tornaram-se inúmeras as provas do hebetismo daqueles que sonharam com o retrocesso de uma ruptura democrática pela força militar.
A autonomia administrativa do Distrito Federal é uma cláusula pétrea para os brasilienses. O presente que nos foi dado pela Carta Magna de 1988 trouxe a maturidade democrática de escolha pelos brasilienses sobre os destinos de Brasília. Complementando a nossa autonomia foi instituído o Fundo Constitucional do Distrito Federal, outro pilar vital para nossa existência, sendo ele a fonte da nossa saúde, educação e segurança.
Brasília não pode pagar pelos erros de alguns. As pessoas passam, Brasília fica e é nela que reside a nossa defesa. Os erros não estão nas instituições, mas nas pessoas. Não é a polícia ou o governo o responsável pelos erros cometidos. O erro foi das pessoas e a pena não pode ultrapassar o culpado para atingir a toda a sociedade. Brasília precisa continuar com sua autonomia e a sustentabilidade que pressupõem a sua existência. O curso da nossa cidade deve ser decidido pelos brasilienses. Aqueles que atiraram na nossa democracia, resvalaram na nossa autonomia. Atitude irresponsável de quem não mede a consequência dos seus atos.
Nossa Polícia Militar merece o respeito pela sua história e a sua missão. Não podemos permitir que a mácula produzida por alguns desrespeite a história diária de proteção do povo Brasiliense. Quantas vidas já foram salvas pela defesa abnegada de seus combatentes ? O Governo do Distrito Federal é a porta que procuram os que precisam do apoio diário do Estado. Ninguém melhor para atender os brasilienses espalhados pelas regiões administrativas que aqueles que foram escolhidos para representá-los. Os erros servem de aprendizado para a caminhada. A democracia é inegociável e deve ser protegida pelo Estado. A lição já sabemos de cor, só nos resta aprender !
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