Toda guerra tem começo, mas o fim é imprevisível e difícil de ser alcançado. A Rússia tem aprendido isso a duras penas. Quase um ano depois de os primeiros bombardeios atingirem Kiev, as forças de Moscou sofrem pesadas baixas em uma invasão que, segundo analistas, carecia de estratégia. Eles afirmam que o Kremlin subestimou as tropas inimigas, durante a ofensiva na Ucrânia. Além de uma possível e vexaminosa derrota militar, a guerra de Vladimir Putin golpeia o seu capital político. A insistência em levar adiante uma campanha bélica contra uma nação vizinha amplia o isolamento internacional da Rússia e reforça a oposição interna ao governo.
Milhares de mortos, gastos exorbitantes e nenhum resultado palpável tensionam a imagem de Putin entre seus cidadãos, indiretamente afetados pelas sanções financeiras impostas pela comunidade internacional. A guerra de Putin parece ter um propósito: estender as fronteiras da Rússia em pleno século 21. A fracassada anexação das regiões ucranianas de Zaporizhzhia, Kherson, Luhansk e Donetsk, após um referendo duvidoso, indica o desejo do Kremlin de controlar partes da ex-república soviética. Mas as tropas de Putin acabaram expulsas dessas regiões, o que desmoralizou ainda mais os invasores.
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O envolvimento da comunidade internacional com a defesa ucraniana, que inclui o envio de sistemas antiaéreos e blindados, além do treinamento de tropas, torna menos risível a possibilidade de vitória de Putin. À medida que a guerra se estende, os suprimentos e as munições da Rússia ficam cada vez mais escassos, enquanto a Ucrânia se beneficia do apoio externo e da logística facilitada. Moscou estuda recrutar mais soldados — muitos deles jovens sem qualquer experiência no front, recrutados às pressas. Seria chover no molhado.
Putin parece querer forçar o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a fazer concessões territoriais em troca de um acordo de paz. Quem acompanhou as últimas revoluções na Ucrânia sabe do caráter destemido e do patriotismo do povo ucraniano. A Rússia pode ter se jogado num atoleiro. Para sair, talvez precise reconhecer o fracasso militar e recuar seus homens de volta ao seu território. Resta saber se Putin estaria disposto a colocar o ego e o próprio poder em xeque. Para os estudiosos, uma derrota no front tornaria insustentável a permanência do ex-espião da KGB no comando do país. Os próximos dias, ou meses, podem ser decisivos para apontar os rumos de um conflito em que somente há perdedores.
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