Aclamado pela genialidade enquanto Rei do Futebol, reverenciado como atleta do século e aplaudido em todo mundo, Edson Arantes Nascimento, o Pelé — morto em 29 de dezembro último — foi vaiado certa noite. Não em um estádio de futebol, mas, sim, num ginásio de esportes.
Em setembro de 1981, a TV Globo promoveu a segunda edição do MPB-Shell. Inicialmente, houve duas eliminatórias no Teatro Fênix, na antiga sede da emissora, no bairro do Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
A finalíssima do festival foi realizada no Maracanãzinho, na Zona Norte carioca. Eu estava entre os jurados, ao lado de outros jornalistas, críticos musicais e de duas grandes personalidades: Pelé e Xuxa — então a mais famosa modelo brasileira.
Nas eliminatórias, Planeta Água, balada com temática ecológica, de Guilherme Arantes, surgiu como favorita. Quando, no ginásio, o cantor e compositor paulistano começou a interpretar a canção, foi ovacionado pelo público de 30 mil pessoas e visto como provável vencedor do certame.
Mas ao anunciar as três primeiras colocadas, Christiane Torloni deixou a multidão decepcionada e revoltada. O júri — segundo ela informou — havia escolhido como ganhadora do MPB Shell, Purpurina, de autoria do gaúcho Jerônimo Jardim, defendida por Lucinha Lins. Quando voltou ao palco para reinterpretá-la, a atriz e cantora foi vaiada estrepitosamente, assim como os jurados, entre eles Pelé — como foi dito.
Sobre Lucinha e nós, foram arremessadas uma profusão de bolinhas de papel e ventarolas de papelão. Observei que, com elegância, o Rei, esportivamente, absorveu aquela manifestação de descontentamento. Não assimilamos o resultado e houve quem atribuísse manipulação na escolha da música vencedora, pela produção do festival.
Tempos depois, Augusto César Vanucci, produtor do MPB-Shell, afirmou que a vitória de Jerônimo Jardim foi uma zebra. "Nem os jurados acreditavam na vitória desta canção", ressaltou. Enfim, enquanto Purpurina caiu no esquecimento, Planeta Água — que era a preferida de Pelé —, transformou-se num clássico da MPB.
Devido à beleza dos versos, a canção é vista como um hino sobre a preservação de recursos naturais, ao exaltar a importância dos rios, dos mares e fontes que alimentam o planeta Terra. Planeta Água é tão marcante na obra de Guilherme Arantes, que o levou a criar uma organização não governamental (ONG) com o mesmo nome.
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