Pelé

Artigo: Toda honra e toda glória

Ana Dubeux
postado em 01/01/2023 06:00
 (crédito: JOEDSON ALVES/AFP)
(crédito: JOEDSON ALVES/AFP)

Difícil falar de Pelé e não se repetir. O maior atleta do século, quiçá dos séculos; o nosso Rei; o homem que foi a própria trégua de uma guerra só com sua presença; aquele que transformou a história do futebol do mundo, tornando-o o esporte mais popular do planeta. Sim, Pelé faz jus à repetição como homenagem. Até porque é único.

O que fez foi tão exclusivo e original, que lhe abriu portais. Do mundo das celebridades, da realeza, das artes. Também do coração das crianças que nunca o viram jogar — e olha que isso talvez seja o mais importante para eternizar a figura de um rei. De origem pobre e preto. Não poderia ser outra a Sua Majestade brasileira.

A morte de Pelé, Edson Arantes do Nascimento, foi destaque em todos os jornais importantes do mundo, inundou o Twitter, os noticiários. Talvez porque nunca tenha sido possível dissociá-lo do futebol. Pelé não era amigo da bola; não era um craque do futebol. Pelé é a bola; Pelé é o futebol. Indissociáveis.

Por isso, ciente de tanto, ele próprio, o Edson, falava de Pelé na terceira pessoa, como um personagem para ser reverenciado. Com a sabedoria dos humildes, Edson soube distanciar o ego famoso. Seria muita grandeza para os ombros de um homem comum, embora não seja para um ser humano de talento incomum.

Pode ser que assim tenha sido mais fácil saber que tinha, como todos, o direito de errar, de chorar, de sentir vazio ou medo, como todos nós. E, assim, deixar aberta outra porta: a dele próprio, um homem simples, alma boa, como definiram as pessoas que cruzavam com ele no dia a dia — em hotéis, em restaurantes, em calçadas, no barbeiro, também nas escolas e hospitais, onde esteve com crianças que demoraram a saber de fato qual o tamanho deste homem.

O menino de Três Marias, da Vila Belmiro e do Santos tornou-se um cidadão honorário do planeta. Em sua morte, pacifica polêmicas. Não resta dúvida de que é o maior e melhor atleta que jamais se viu.

Decidiu deixar relíquias num armário fechado da sede do seu time, para dar sorte. Decidiu ser velado após a posse de Lula, esperando, quem sabe, que uma emoção não se sobreponha a outras. É muito para os nossos corações.

Se isso foi de caso pensado, o resto não deve ter sido. Porque é difícil mesmo imaginar e planejar tudo o que se seguiu aos primeiros flertes com a bola, após três Copas do Mundo e todo o resto.

Creio que Pelé não decidiu ser um herói para a humanidade. Mas foi sendo e se tornando e se eternizando. A ele, Pelé, e com Ele, Deus, toda honra e toda glória. Descanse, Pelé!

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