ANO-NOVO

Visão do Correio: Reflexões sobreo fim do ano

"O fim do ano, diferentemente de outros períodos, traz alguns aspectos peculiares. As pessoas estão visivelmente mais estressadas, atarefadas e, consequentemente, exaustas"

O fim do ano, diferentemente de outros períodos, traz alguns aspectos peculiares. As pessoas estão visivelmente mais estressadas, atarefadas e, consequentemente, exaustas. A paciência — trabalhada durante todos os outros meses — se esgotou e, como a maioria dos brasileiros faz, você também deixou para resolver alguns "imbróglios" no último minuto do segundo tempo.

Um levantamento da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia mostra que a terceira idade é a faixa etária mais afetada às vésperas do Natal e réveillon. De acordo com a entidade, a solidão é o principal receio dos brasileiros idosos.

Segundo a pesquisa, é imprescindível fazer com que pessoas da terceira idade se sintam incluídas no núcleo familiar, especialmente no caso do ano-novo, uma vez que, geralmente, as famílias se reúnem nos dias 24 e 25, mas se esquecem de que a passagem do ano também é um momento de reflexão, de repensar o que passou e projetar o futuro, ainda que essa faixa etária esteja em uma idade mais avançada.

Planejar em família ou falar sobre os planos daqui para frente é uma forma de pertencimento e de mostrar para o idoso que a vida dele precisa "ser vivida". O idoso precisa se sentir pertencente e devidamente representado entre seus familiares, por isso a rede de apoio é determinante para a qualidade de vida das pessoas.

O medo da solidão foi apontado como um dos principais gatilhos para a ansiedade dos idosos no Brasil (IBGE), em 2019, ultrapassando inclusive o medo da morte. As mulheres lideram o ranking de prevalência de condições como a depressão — cerca de 14,7% — contra 5,1% dos homens.

Para que essa solidão seja minimizada ou produza menos prejuízos, os especialistas recomendam às famílias o método "aging in place", ou seja, optar pelo suporte de um profissional habilitado, nos casos em que os filhos não tenham a quem confiar o idoso nesses dias festivos.

Dezembro é mesmo um mês atípico, a ponto de ser adjetivado. A "dezembrite", ou síndrome do fim do ano, pode se manifestar por meio de sentimentos como alegria, euforia, esperança, por um lado, ou solidão, angústia, frustração, ansiedade, por outro. É nessa fase que o Centro de Valorização da Vida (CVV) recebe cerca de 20% a mais de ligações e o nível de estresse do brasileiro aumenta em até 75%.

No entanto, é preciso reforçar que, por trás dessa sensação, há todo um contexto que transcende o mês de dezembro. A cobrança de nós mesmos aliada à pressão da sociedade — velada ou não — por um sucesso inatingível contribui para esses sentimentos de incapacidade.

Para superar ocasiões como esta, talvez o momento seja de desconstrução. Desfaça a lista de metas, os acordos pré-estabelecidos para 2023 e se dê ao luxo de apenas flanar. Esteja certo que a "dezembrite" vai passar. Faltam apenas cinco dias para o fim do ano.