AVIAÇÃO

Artigo: Atenção, senhores passageiros

"Agora, imagine quando você passa o ano todo planejando aquela viagem de férias e se depara com uma paralisação de aeronautas"

Não sou contra greves. Reivindicações trabalhistas são legítimas e devem ser levadas a sério. Mas não dá para negar o transtorno que essas manifestações causam, especialmente quando se trata da redução de serviços básicos de saúde, segurança, educação e mobilidade. Nesse último campo, a dor de cabeça talvez seja uma das mais desgastantes. Para um trabalhador, é frustrante depender de transporte e não conseguir porque um grupo de outros trabalhadores decidiu cruzar os braços. Agora, imagine quando você passa o ano todo planejando aquela viagem de férias e se depara com uma paralisação de aeronautas. Foi com essa realidade que muitos brasileiros esbarraram, na semana passada, a poucos dias do Natal e do réveillon.

A queixa dos pilotos e comissários de bordo é genuína: querem melhores salários e mais descanso. Todos nós queremos e merecemos. A época escolhida para o movimento, porém, foi a pior possível. Ainda bem que acabou. Mas o episódio nos leva a refletir o quanto o usuário vive refém das empresas aéreas. A política de compra, cancelamento e remarcação de bilhetes, por exemplo, traz regras que obrigam o consumidor a uma adequação compulsória. As tarifas — que já não eram as mais atrativas — dobraram desde o início da pandemia. Quando há promoção, muitas vezes é para alguma data aleatória, em um horário ingrato, para um destino insólito. Algo como viajar para Palmas, na madrugada de um domingo de agosto.

Há alguns anos, tornou-se lei a cobrança para despacho de bagagens, com a vã promessa de redução nos preços das viagens. A escolha de um assento com antecedência também exige um pagamento adicional, se o passageiro não quiser voar em cima da asa, apertado na poltrona do meio. O que se cobra não chega a ser abusivo, mas incomoda a constatação de que alguns serviços, que antes eram inclusos no pacote, passaram a ser gourmetizados.

Abusivas mesmo são as taxas para remarcar e cancelar, que, muitas vezes, se equiparam ao preço de uma nova passagem. Se você tem um imprevisto e não pode viajar, haja remédio para aliviar a dor no bolso. Perder voo, então, que transtorno! Ao contrário das companhias, que têm aval para o descumprimento do horário de embarque e pouso por diversos motivos, pobre do passageiro que encara um engarrafamento a caminho do aeroporto. Em uma megalópole como São Paulo, por exemplo, a depender do horário, se o terminal for o de Guarulhos, é recomendável sair de casa/hotel com pelo menos três horas de antecedência. E é bom levar um lanchinho na bagagem de mão: um combo de um pão de queijo com um copo de café, em qualquer lanchonete de aeroporto, costuma custar o preço de uma refeição completa.

O jeito é torcer para que, daqui a pouco, não sejamos surpreendidos com a taxação da utilização dos banheiros, como já ocorre em algumas rodoviárias. E que bom que os aeronautas grevistas tiveram suas reivindicações atendidas. Que o fluxo de viagens deste período de férias não seja mais tão afetado. Afinal, também temos direito ao descanso.