Lula anunciou, na sexta-feira, seus primeiros ministros. Pensou, primeiro, em acalmar os mercados — como se fosse possível — ao escolher o titular da Fazenda (Fernando Haddad). Também priorizou a pacificação com os militares e as polícias, setores predominantemente ligados a Bolsonaro, com José Múcio (Defesa) e Flávio Dino (Justiça). Os outros dois escolhidos foram Mauro Vieira (Itamaraty) e Rui Costa (Casa Civil), por questões muito mais logísticas do que políticas. O petista deixou a Educação para uma segunda lista.
Qualquer que seja a escolha de Lula para esse ministério, acredito que a Educação deveria ter sido a prioridade número um de um governo que se apresenta como de reconstrução. Não quero entrar aqui numa análise da confusa gestão do governo Bolsonaro na condução desse setor no Brasil. Foram pelo menos seis ministros —alguns com 15 dias, um mês nos cargos — e muitas indecisões, por isso entendo que há desafios imensos a serem vencidos. E urgentemente.
Saiba Mais
Depois da saúde, por motivos óbvios, a educação — e não a economia — foi a mais afetada pela pandemia da covid. As escolas ficaram fechadas por muito tempo, com prejuízos imensos a milhões de jovens, principalmente os mais pobres, das escolas públicas. A falta de um comando centralizado para discutir temas emergenciais, elaborar um calendário, prejudicou imensamente o ensino. Questões ideológicas acabaram predominando nos debates, com especialistas perdendo espaço para "palpiteiros" de ocasião. Resultado? Crianças e adolescentes com enorme deficit de aprendizado e alta evasão escolar.
O fechamento prolongado das escolas também afetou severamente a questão social. Lembro-me de uma reportagem do Correio que relatava a atuação de uma professora de escola do Riacho Fundo. Ela monitorava os alunos na pandemia. A docente constatou que uma família que tinha cinco crianças na escola passava fome, pois a merenda escolar era a principal refeição para elas. Com cinco meninos e meninas em casa, de uma só vez, a situação era caótica pela falta de alimentos.
Tenho certeza de que Lula indicará seu ministro da Educação esta semana. Mas a apresentação de um nome para esse ministério não basta. Na campanha presidencial, os debates sobre o setor foram bastante limitados, dando pistas de que os candidatos pouco ou nada tinham a oferecer sobre o assunto. O ministro da Educação de Lula precisa apresentar, com urgência, planos para a normalização dos repasses de verbas a universidades — um problema que se arrasta há vários governos, é bom ressaltar —, para a reestruturação de programas como o dos livros didáticos e da merenda, mas, principalmente, um projeto a curto, médio e longo prazos para conter e reverter a defasagem de aprendizado.
O novo ministro deve chegar com uma agenda emergencial. Há uma geração de jovens que está num limbo educacional e profissional, e a sociedade precisa resgatá-la. O sucesso do novo governo passa por aí.