O futebol é um celeiro de heróis que se encaixam no conceito de Joseph Campbell, estudioso que destrinchou o passo a passo da construção de um mito. Na Copa do Mundo, há bravos guerreiros que se colocam armados para importantes batalhas nos gramados. Nelas, o alvo é o gol, mas a simbologia que está por trás de cada bola que atinge a rede é muito maior: um país inteiro está à espera de um resultado que depende unicamente da habilidade, coragem, bravura e compromisso desses heroicos craques com a Nação. São, de fato, combatentes em uma guerra que tem, ao final, para a equipe vitoriosa, um troféu que será levado para a comunidade que ela representa.
A comparação com o personagem bíblico Davi é inevitável. No contexto histórico, um jovem franzino e aparentemente pífio se depara com a ameaça assustadora da invasão dos filisteus e encara, sozinho, o gigante Golias — aquele que afronta Israel com a empáfia da seleção espanhola que massacrou a de Costa Rica por 7 x 0. Mas Davi, ainda que o menos preparado, dispõe-se a enfrentar o grandão, a quem mata com uma espécie de estilingue, tornando-se um herói para toda a nação ameaçada. Alguma semelhança com o inesperado êxito de Marrocos sobre a aclamada La Furia?
Na Seleção Brasileira, temos nossos Davis, sobre os quais também recai toda a expectativa de uma nação — com o agravante de que sermos os únicos pentacampeões desperta, ainda, o olhar tênue entre respeito e cobrança do mundo todo. Alguns desses jogadores, como Rodrygo e Gabriel Martinelli, de 21 anos, nem assistiram a conquista da quinta estrela, em 2002. Na do tetra, Neymar Jr. tinha apenas dois anos e, em sua primeira Copa como jogador, a das Confederações de 2013, tinha a mesma idade dos atuais colegas e ainda carregava o peso de estrear em um campeonato disputado no seu próprio país. Assim como o herói bíblico, Neymar foi enviado ao combate e ajudou a conquistar o troféu ao se destacar em campo na jornada que culminou na derrota da mesma gigante Espanha, à época campeã da Copa do Mundo de 2010. Um ano depois, entretanto, já alçado ao posto de Golias, o jovem craque brasileiro foi derrotado por um golpe vindo de um aprendiz de Davi colombiano que o tirou de campo e, com sua queda, eliminou simbolicamente a chance de o Brasil erguer a tão sonhada taça no quintal de casa.
Estamos agora diante de um novo e importante desafio. Hoje, contra a Croácia, temos em campo não somente um, mas diversos Davis. Além do camisa 10, a Seleção Brasileira conta com os três mosqueteiros Richarlisson, Vinicius Junior e Lucas Paquetá, que se destacaram pelos belos e decisivos gols das últimas partidas. Do outro lado, a atual vice-campeã do mundo não parece estar disposta a voltar para casa. Se vencermos este gigante do leste europeu, a guerra continua e, lá na frente, o Golias que nos aguarda não é nada amigável. Ou encontraremos os holandeses que nos massacraram em 2010 e 2014 ou os eternos rivais argentinos, liderados por um dos mais gigantescos mitos da atualidade, o Messi. Haja heroísmo!
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