Tem um vídeo que não me canso de ver. Madonna recebendo o prêmio de mulher do ano na Billboard 2016. Guardo esse momento na galeria do celular como um troféu, porque ele não é só dela. É de todas as mulheres. Em poucos minutos, ela narra como foi violentada, assaltada por diversas vezes, perdeu amigos para Aids e sofreu ofensas e críticas ao longo da sua carreira.
Mas, muito além disso, ela fala sobre como o fato de ser mulher a fez vulnerável. Sobre como a questão de gênero atravessou toda a sua carreira e trajetória e como é importante que mulheres sejam a mão firme que apoia outras mulheres. E também como é necessária a presença de outras mulheres na nossa vida, para segurar, sustentar, acolher, compartilhar e inspirar.
Um discurso lindo, honesto e absolutamente verdadeiro. Lembrei-me dele novamente ao assistir ao documentário da HBO sobre Bertha Lutz (Bertha Lutz: A Mulher na Carta da ONU), biológa, cientista, feminista e sufragista, que nos legou, com sua luta, a inclusão da palavra "mulheres" na Declaração Universal de Direito Humanos da ONU em 1948, o que foi fundamental para estabelecer o preceito de igualdade de gênero na constituição do organismo internacional e avançar na luta feminista.
Bertha Lutz nos representou e até hoje nos representa. O seu legado contemplou a todas nós. Na ciência e na política. Elaborou no Brasil as bases do feminismo, cuja primeira luta foi o direito de voto da mulher, uma das mais importantes vitórias da cidadania feminina, assegurado no texto da Constituição Federal de 1934. Deputada federal, integrou oficialmente diversas delegações do Brasil em conferências internacionais. Devemos a ela diversas conquistas femininas.
O que uma cientista ativista e uma artista pop de sucesso podem ter em comum? Antes de qualquer coisa, é a luta. Uma mulher que briga pelo que pensa e pelo direito de ser quem é nos devolve a dignidade surrupiada todos os dias até hoje.
Cada uma a seu modo, mulheres que conquistam seu espaço tornam-se vozes coletivas, universais e atemporais, a favor de outras mulheres. Quando elas reconhecem sua vulnerabilidade, como Madonna fez em seu discurso, elas nos dizem que, apesar dos tropeços, do sofrimento, do preconceito, todas nós merecemos ser livres para fazer nosso caminho.
Eu me abasteço do exemplo de outras mulheres. Agradeço a todas elas, que seguem comigo na família, no trabalho, na vida, na memória. Eu as guardo na minha caixa particular de afetos e não há um dia em que não tenha demonstrações do privilégio que é compartilhar a vida com elas.
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