De acordo com dados recentes divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas últimas eleições de 2022, nada menos do que 90,7% de todos os recursos provenientes do Fundo Eleitoral, ficaram concentrados em mãos de apenas 3,4% dos candidatos. Isso equivale a dizer que dos milhares de candidatos que disputaram cargos eletivos em todo o país, apenas 950 deles tiveram acesso pleno aos R$ 2,5 bilhões liberados.
Trata-se de uma concentração de recursos, que de certa forma parece copiar o modelo que desde sempre tem existido dentro da sociedade brasileira, considerada hoje a que apresenta uma das mais desiguais do planeta. Segundo o IBGE, entre 2020 e 2021, 1% dos mais ricos do país, chegavam a ganhar mensalmente 38,4% mais renda do que os 50% mais pobres, ou metade da população.
Essa desigualdade se alastra também pelo mundo. A cada 30 horas, surge um novo bilionário no planeta, sendo que no mesmo intervalo de tempo mais de um milhão de pessoas cai para o patamar de extrema pobreza.
O mundo político, tal qual é organizado em nosso país, copia as mazelas da desigualdade social existente aqui e além-mar. Na verdade o que temos em matéria de organização política é a predominância do chamado caciquismo, no qual os donos das legendas organizam a distribuição do dinheiro do pagador de impostos, via Fundos eleitorais e Partidários, de acordo com critério distantes anos luz de quaisquer princípios republicanos ou éticos.
Por aqui, o grosso dos recursos desses Fundos, vai parar em mãos de candidatos de etnia branca, ligados aos caciques, que escolhem a dedo, quem tem chance de eleger-se e quem não tem. Nesse butim legal, apenas o Partido Novo não utiliza os recursos do Fundo Eleitoral em suas campanhas. No geral os candidatos negros chegam a receber 11 vezes menos que candidatos brancos e ligados às cúpulas partidárias. Esse tipo de desigualdade não fica restrito apenas a cor da pele.
Pesquisas mostram que o Fundo Eleitoral além de não incentivar a participação das mulheres na vida política nacional, destina menos de 30% para elas, mesmo havendo cota de gênero. Para piorar uma situação que em si é desigual e injusta, o atraso no repasse dos recursos do Fundo Eleitoral para as campanhas para os candidatos chega a inviabilizar algumas campanhas.
É preciso deixar claro aqui que os processos de desigualdades observados e existentes dentro no atual modelo político e partidário do país provocam consequências diretas também para a vida social, espelhando essa injustiça. A resolução dos grandes problemas nacionais passa também pelas instituições partidárias. Se essas são injustas e mal organizadas, também o será a sociedade.
As políticas públicas são também reflexos dos modelos partidários, pois são exercitadas por entes políticos, ligados à partidos. Se os partidos não tomarem para si a responsabilidade de organizarem-se como entidades totalmente montadas a partir de bases éticas e humanas, com especial atenção a boa administração dos recursos públicos, de forma equânime e justa, todo o resto e com ele o Estado, o governo e a própria sociedade estão fadados ao fracasso.
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