Ao contrário do que se via em edições passadas, a Copa do Mundo de Futebol, patrocinada por uma Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa) pra lá de enrolada com escândalos de corrupção, não tem merecido, pelo menos por parte dos brasileiros despertos para as agruras atuais do país, a atenção e o apoio que possuía em tempos idos.
Hoje a impressão que fica em muitos é que essa Copa no Catar se transformou num evento "pra lá de Marrakech", distante e perdido no tempo. A maioria dos torcedores que ainda dedicam seu tempo a assistir às disputas do ludopédio internacional, observam esses jogos com um misto de desconfiança e de saudosismo. Desconfiança porque sabem, por meio das redes sociais, como foi construído todo esse palco fake para hospedar os jogos.
Segundo consta, mais de cinco mil trabalhadores, vindos de países pobres da Ásia e de outras partes da África, mão de obra, que muito bem poderia ser classificada como escravos modernos, perderam a vida durante a construção das obras para sediar a Copa. Tratavam-se de trabalhadores anônimos e sem importância maior para o evento mundial. Também chegam notícias de que os árabes encheram as malas dos cartolas com milhões de dólares e muitos quilos de ouro para assegurar certas facilidades para esse espetáculo.
Investigar as movimentações suspeitas em mais essa Copa, no país anfitrião, que é reconhecidamente uma ditadura fechada e retrógrada, não avançará um milímetro sequer. No Brasil, até hoje os processos envolvendo a Copa de 2014, que abarrotam os tribunais de todo o país, também não resultaram em nada. Onde quer que se ande pelas cidades do Brasil ainda é possível ver os gigantescos e abandonados estádios de futebol, construídos com sobrepreço e desvios de toda a ordem, verdadeiros elefantes brancos ou monumentos à corrupção e à impunidade.
São por fatos como esse que o torcedor que, antigamente, vestia a camisa do clube, vendo o que ocorre nos bastidores desse esporte, ficou desiludido com o futebol. Felizmente, parte da antiga torcida acordou para as manobras e mutretas que escondem esse esporte. Usado como estratégia ufanista de muitos ditadores, que recorriam ao futebol como meio de iludir e distrair o povão das agruras e violência dia a dia, o futebol perdeu seu colorido.
Agora, em dias de jogos da Seleção Brasileira, mais do que observar a partida, é preciso ficar de olho no que ocorre, ao mesmo tempo, nos bastidores da política. Alguns entendidos nessas manobras alertam para a possibilidade de a final da Copa coincidir com votações de projetos importantes para o país, como aquele que coloca um ponto final na possibilidade de abrir-se processos de impeachment contra autoridades togadas e outros próceres da República.
Olho vivo é preciso. Nesta Copa, a melhor posição diante da tevê é ficar de costas para os jogos e com a atenção voltada para dentro do campo político, onde ocorrem os jogos de Estado que nos interessam e que trazem consequências na vida cotidiana de todos.
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