O goleiro russo Lev Yashin abriu as portas do céu. Carlos Alberto Torres, o capitão do tri, recomendou acesso pela lateral-direita. Nilton Santos indicava a esquerda. O zagueiro inglês Bobby Moore marcava Pelé homem a homem até que o liso camisa 10 deu drible de corpo no beque da Copa de 1966 e marchou rumo ao check-in no paraíso.
Quando invadiu o meio de campo a caminho da eternidade, foi saudado na passagem pelo tapete vermelho por Fifa Legends como o argentino Di Stéfano, o holandês Johann Cruyff, o húngaro Ferenc Puskás, o amigo português Eusébio… O carrasco italiano Paolo Rossi queria saber por que a Itália ficou fora da Copa pela segunda edição consecutiva. A demanda de Gerd Müller era outra. Almejava entender duas eliminações consecutivas da Alemanha na fase de grupos. Enquanto isso, o velho compadre de tantas tabelinhas e títulos Mané Garrincha continuava irreverente. Sem jeito. O Anjo das Pernas Tortas cochichou com Pelé que Maradona estava doidinho para ocupar um belíssimo assento reservado.
D10S esperava o reencontro incomodado. Fazia caras e bocas sentadinho à direita do trono central reservado para sua majestade — o rei Pelé. Metido a cantor, o Atleta do Século 20 logo começou a interpretar a canção do último encontro terráqueo entre ele e Maradona, em Buenos Aires. Quebrou o clima dedilhando o velho violão sempre carente de afinação e entoou: "Quem sou eu, Maradona? Quem é você? Você quer ser eu. E eu quero ser você".
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Começava ali a reedição de La Noche del Diez — o programa que levava a assinatura de Maradona na tevê argentina. O Príncipe tratou de fazer uma entrevista no canal alvi(celeste) com o Rei recém-chegado. Perguntou sobre as últimas novidades do lado de cá.
Pelé matou a curiosidade. Contou a Maradona que Messi havia finalmente levado a Argentina ao tri na Copa na final de todos os tempos contra a França. El Pibe sorriu, chorou e queria detalhes. Irônico, Pelé contou que, dessa vez Los Pies — e não mais Las Manos de D10s — fizeram a diferença. O Rei descreveu a milagrosa defesa de "Dibu" Martínez no último minuto da prorrogação e viu os olhos do amigo brilharem com a notícia do fim dos 36 anos de jejum.
Encantada, a plateia aplaudiu a reedição de La Noche del Díez. Estava encerrado o primeiro de muitos banquetes com o recém-chegado Pelé.
Era hora de o Rei atualizar a resenha com o Enciclopédia Nilton Santos. Matar a saudade de Bellini. Dar boas risadas com Mané Garrincha, Didi... Tabelar com velhos parceiros do Santos como Dorval e o par perfeito Coutinho. Até o sonolento técnico Vicente Feola despertou do sono profundo no banco de reservas e avistou meio embaçado quem havia sido o caçula do Brasil na Copa de 1958. Reverenciou o rei.
E assim foram as primeiras horas de Pelé no paraíso do futebol. "Entende", diria Edson Arantes do Nascimento, referindo-se em terceira pessoa ao Pelé.
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