A sociedade brasileira não pode aceitar, em hipótese alguma, que tentativas de atos terroristas no país fiquem impunes. É inaceitável que crimes terríveis como esses sejam tratados com parcialidade, do ponto de vista ideológico. O que se viu em Brasília nos últimos dias é assustador. O terror começou há duas semanas com atos de vandalismo em que ônibus e carros foram queimados e patrimônio público destruído — tudo sem que a polícia do Distrito Federal nada fizesse para punir os bandidos — e culminou com a descoberta, no último sábado, de uma bomba em um carro-tanque nas proximidades do aeroporto da capital federal. Está claro a existência de uma organização criminosa disposta a confrontar as instituições democráticas e a provocar o caos no país.
O depoimento do empresário George Washington, preso por determinação do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, esquadrinha como o grupo terrorista está organizado. Toda a ação para explodir o carro-tanque e uma subestação de energia em Taguatinga foi orquestrada em frente ao Quartel General do Exército, onde, há dois meses, estão acampados apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas eleições por Luiz Inácio Lula da Silva. Essas pessoas pregam o golpe militar e a volta da ditadura. O homem, que trouxe um arsenal do Pará — duas espingardas, um fuzil, dois revólveres, três pistolas, centenas de munição e explosivos — disse que estava seguindo os apelos do atual chefe de Estado, de armar a população.
As autoridades que fecharem os olhos para essas ações criminosas serão cúmplices do que de pior acontecer. Milícias políticas não são compatíveis com o Estado de direito. Até agora, a democracia brasileira resistiu bravamente a todos os ataques que vem sofrendo, porém, percebe-se que os extremistas estão dispostos a tudo para fazer valer sua posição incompatível com a realidade do país. As eleições presidenciais acabaram em 30 de outubro, a maioria da população optou por um dos candidatos, que, por lei, já foi diplomado e tomará posse em 1º de janeiro de 2023. Todo o processo eleitoral foi conduzido de forma transparente, com a segurança inquestionável das urnas eletrônicas, orgulho para o país.
A estrutura terrorista desvendada pela Polícia Civil do DF revela, ainda, o perigo que corre o Brasil com o armamento desenfreado da população. O empresário preso tem registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC). Como ele, milhares de cidadãos obtiveram autorização para posse e porte de armas de fogo. As estatísticas apontam que há mais de 1 milhão desses artefatos nas mãos desses beneficiários da flexibilização das leis nos últimos anos. Tal arsenal é maior do que a soma das armas detidas pelas polícias de todos os estados e do Distrito Federal. Não é possível que um país tão violento quanto o Brasil permita que tantas pessoas detenham armamentos em casa, armas, que, ressalte-se, vêm sendo desviadas para grupos criminosos, num mercado ilegal e superaquecido.
Não será uma tarefa fácil prender todos os integrantes da organização terrorista que tenta desestabilizar o país com a decretação "de um estado de sítio e a intervenção das Forças Armadas". Mas há importantes caminhos para se chegar a todos, sobretudo se a polícia desvendar de onde vem o financiamento dos grupos. Montar uma estrutura como a que foi encontrada com o empresário preso — ele afirmou ter gastado mais de R$ 160 mil — requer muito dinheiro. Portanto, há poderosos por trás desse movimento tresloucado, inclusive dando cobertura para o transporte de armamentos pelas estradas federais. As armas de George Washington transitaram tranquilamente entre Pará e Brasília.
Os próximos dias serão cruciais para as autoridades constituídas darem respostas à sociedade. O momento é alarmante. O país está a uma semana de ter um novo governo e extremistas se mostram dispostos a tumultuar e a provocar as instituições democráticas. Qualquer vacilo terá um custo alto. Contra terroristas, só há um caminho: o rigor da lei. Que assim seja.
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