Vacinação

Artigo: Produção de vacinas exigirá grandes investimentos

Os investimentos têm ganhado cortes significativos — e algumas consequências disso são o estabelecimento de um mercado menos atrativo e a saída de talentos que procuram oportunidades em outros países

Correio Braziliense
postado em 25/12/2022 05:00
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)

Dimas Covas — Médico hematologista e diretor executivo da Fundação Butantan

Muito se fala na importância do olhar para a ciência e a pesquisa. Porém, a verba direcionada para essas áreas tão importantes para a saúde pública tem minguado ao longo dos últimos anos. Os investimentos têm ganhado cortes significativos — e algumas consequências disso são o estabelecimento de um mercado menos atrativo e a saída de talentos que procuram oportunidades em outros países.

A pandemia tratou de deixar esse tema urgente. O Butantan vem buscando grandes parceiros e grandes investimentos para tirar do papel a meta de se tornar autossuficiente e estar entre os maiores do mundo. O resultado desse trabalho é que entramos na lista dos 10 maiores produtores de vacina do mundo (excetuando imunizantes de covid-19), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Mas como ser grande e estar entre os melhores? Como acelerar os ensaios clínicos, desenvolver e produzir vacinas e medicamentos biotecnológicos em território nacional? Como, em uma eventual nova pandemia, não ficar no final da fila no momento de aplicar a vacina nos braços da população e evitar mortes? Afinal, a excelência é alcançada com investimentos em produtos e plataformas que atendam às rígidas regras do mercado internacional e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Após uma diligência criteriosa, a Fundação Butantan foi beneficiada por um financiamento que vai resultar na construção e na operação de duas fábricas para produção de vacinas. O BID Invest concedeu um empréstimo de R$ 526 milhões e qualificou a fundação para receber até R$ 1 bilhão de bancos parceiros, o que resultará em mais vacinas e mais tecnologia para o país. A produção atual poderá ser triplicada, possibilitando a imunização de um número ainda maior de brasileiros e brasileiras. O valor a ser investido também impactará na área de inovações em pesquisa e desenvolvimento, gerando mil postos de trabalho até 2028.

Podemos afirmar que nosso Butantan ganhou maturidade empresarial jamais vista, se modernizou e, hoje, é um dos maiores empreendimentos em biotecnologia do Brasil. Além da produção de vacinas, olhamos também para a formação de uma equipe qualificada e diversa, à altura de exigências internacionais.

A produção da Fundação Butantan necessita de plataformas e de tecnologia que suportem e garantam a excelência e agilidade de todos esses processos. No campo da sustentabilidade, temos preocupações como eliminar papel e construir fábricas que causem menor impacto na natureza. No campo da inovação tecnológica e meios de monitoramento da produção, priorizamos novos sistemas de inteligência para que todo esse complexo possa funcionar sem instabilidades e com segurança, além de aumentar a confiabilidade e reduzir o uso de papel, seguindo as normas da Anvisa.

Atualmente o Butantan possui a competência e está capacitado para obter recursos e, assim, se planejar e se preparar para o futuro. A produção realizada hoje dentro da área fabril é a maior da história da fundação. Em 2021, foram produzidas 100 milhões de doses de CoronaVac, 80 milhões de doses de vacina contra a gripe, 28 milhões de doses de vacinas contra hepatite A e B, HPV, DTaP e raiva, e 560 mil unidades de soros.

Essas iniciativas estão alinhadas com os objetivos de atingirmos a meta de atender não só o mercado nacional, mas também o internacional. Em 2022, o Butantan exportou quase 2 milhões de doses da vacina Influenza para Equador, Nicarágua e Uruguai, por meio de um edital da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Isso foi possível graças à inclusão do produto na lista de imunizantes pré-qualificados da OMS no ano passado — um reconhecimento da qualidade e das boas práticas de fabricação da instituição.

Para acelerar as exportações, o Butantan fez um acordo recentemente com o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) para reduzir de 30 para 7 dias o tempo de liberação de soros e imunizantes destinados ao mercado privado nacional e internacional. Com isso, buscamos otimizar a nossa competitividade no mercado e fortalecer ainda mais a nossa internacionalização.

 


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