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Artigo: Novos tempos novos modos de consumo

O esgotamento dos recursos naturais é uma realidade inconteste e da qual não há fuga ou plano B, pelo menos por enquanto. O consumo diário e crescente de mais de sete bilhões de indivíduos tem exigido, cada vez mais, o uso de recursos naturais que vão muito além da capacidade do planeta em prover.

Circe Cunha
postado em 24/12/2022 05:00
 (crédito: Alencar Zanon/University Federal of Santa Maria)
(crédito: Alencar Zanon/University Federal of Santa Maria)

Novos tempos requerem novas formas de pensar. É com esse mote que muitos países desenvolvidos estão hoje direcionando suas economias, buscando otimizar, ao máximo, o uso de seus recursos naturais, reduzindo o consumo de matéria-prima virgem e conferindo prioridade aos insumos duráveis, recicláveis e renováveis.

Esse pensamento se estende também à produção de energia, matéria-prima fundamental para qualquer projeto de desenvolvimento. De fato, o mundo se acha hoje numa encruzilhada que coloca num mesmo ponto a superpopulação do planeta frente ao esgotamento, cada vez maior, dos recursos naturais. A questão é como compatibilizar crescimento demográfico e escassez de alimentos e outros itens necessários e vitais à sobrevivência da espécie humana. Cabem aos humanos resolverem, o quanto antes, os problemas criados por eles mesmos, sobretudo no que diz respeito as velhas relações econômicas, baseadas na produção e no consumo em larguíssima escala.

Trata-se de um problema de dimensões planetárias e que, agora, está a exigir mudanças revolucionárias, a começar pela reeducação de cada indivíduo, colocando-o, realisticamente, diante da dupla opção: ou mudar a forma e sua relação com o mundo, ou buscar viver em outro planeta distante.

O esgotamento dos recursos naturais é uma realidade inconteste e da qual não há fuga ou plano B, pelo menos por enquanto. O consumo diário e crescente de mais de sete bilhões de indivíduos tem exigido, cada vez mais, o uso de recursos naturais que vão muito além da capacidade do planeta em prover. O resultado dessa descompensação pode ser evidenciado não apenas no grande número de conflitos armados e nas grandes levas de pessoas que migram em busca de oportunidade e alimentos, mas, sobremaneira, pela transformação paulatina do equilíbrio ecológico, com o advento do aquecimento global, escassez de água e poluição em níveis alarmantes dos ecossistemas.

Mais do que em qualquer outra época na história da humanidade, estamos diante de uma grande encruzilhada. Essa é, por exemplo, a questão dos lixões a céu aberto e os aterros sanitários que, recentemente, vêm preocupando autoridades e a comunidade do Distrito Federal. Na busca por uma solução adequada para o descarte de tamanha quantidade de lixo e outros dejetos, temos que reformular o problema em sua origem, mudando nossa forma de produzir e de consumir. Dentro dos modelos que temos atualmente de consumismo desenfreado, feitos a qualquer preço, é óbvio que não poderá existir solução definitiva para as montanhas de lixo produzidas diariamente. Algum dia, toda essa sobra acabará por engolir a todos nos.

Com a economia compartilhada, em que o indivíduo divide o uso dos bens econômicos duráveis, dispondo para todos o que antes pertencia apenas a uma só pessoa, surgiu também e vem ganhando cada vez mais adeptos a chamada economia circular. Inscrita dentro do desenvolvimento sustentável, é também conhecida como ecologia industrial e propõe, basicamente, que os resíduos da indústria sirvam para o desenvolvimento de novos produtos, dentro de um ciclo de reaproveitamento dinâmico e constante, mantendo esses resíduos dentro de um modelo circular positivo ou quase infinito.

Em seu aspecto prático, a economia circular propõe o prolongamento máximo da vida útil dos produtos, objetivando "manter componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor o tempo todo". Dentro desse novo modelo, são privilegiados a mobilidade sustentável e o transporte público, entre outras medidas racionais de uso e desuso. Seus princípios são, basicamente, a preservação e o aumento do capital natural, a otimização na produção de recursos e o fechamento dos ciclos da economia, em que o desperdício não mais existe. Os bens são reparados e reutilizados, com as matérias-primas vindas da reciclagem, e não mais da extração direta da terra.

Além desses princípios contam também a promoção de um novo paradigma social, em que as relações entram, transformando o consumidor em utilizador do produto, partilhando em vez de acumulando bens. Dentro dessa nova forma, a economia e o planeta, será importante também pensar na eficácia do sistema, reduzindo danos a produtos e serviços necessários aos humanos, como alimentos e habitação.

Da economia compartilhada poderá nascer um homem novo ciente de suas responsabilidades com a preservação do planeta e da espécie. Existe ainda uma saída para esse impasse: o uso inteligente daquilo que a Terra provê a todos. Mas uma revolução como essa exigirá também um novo relacionamento com o planeta, por meio de longo processo de educação da sociedade, capacitando os novos habitantes da Terra a utilizarem com parcimônia científica e metódica os bens naturais que são de todos.

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