Estamos a nove dias de um novo ano. Tradicionalmente, é uma época que ficamos mais introspectivos. Tempo de avaliação dos últimos 12 meses, de fazer planos, de estabelecer metas. E olhando para o passado, vejo com preocupação o que nos espera: mesmo com o fim do processo eleitoral, seguimos com uma sociedade dividida, sem a perspectiva de uma mudança de rumo no curto prazo.
A instalação de um outdoor na região do Jardim Botânico ilustra bem a cisão social que vivenciamos. Moradores resolveram protestar contra a mudança do presidente Jair Bolsonaro para uma casa no condomínio Ville de Montagne, cujo aluguel será arcado pelo PL. "JAIR aqui NÃO!", diz o painel. Bolsonaristas não gostaram e depredaram a placa. Ou seja, um fato e dois posicionamentos equivocados, para dizer o mínimo.
Independentemente da nossa visão política, não temos o direito de escolher o nosso vizinho. Ninguém precisa deixar de morar em tal lugar pela vontade de outra pessoa. Se forem seguidas as regras de convivência social, não há como a Justiça intervir — não existe previsão específica em lei, atualmente, que autorize a expulsão de um morador, mas existem decisões judiciais aplicando tal penalidade, em casos específicos de conduta inadequada.
Ao mesmo tempo, não dá para destruir um outdoor simplesmente porque tem uma visão diferente. É o reflexo do radicalismo, da falta de diálogo existente hoje em uma parcela considerável da sociedade brasileira. Há uma diferença bem grande entre ser inimigo ou adversário.
As manifestações antidemocráticas nas portas dos quartéis do Exército, em vários cantos do país, são uma prova disso. As pessoas têm, sim, o direito de se reunir pacificamente para expor o seu posicionamento político, o problema é o teor golpista. Pedir "intervenção militar com Bolsonaro no poder" é ir contra o desejo da maioria dos eleitores do país, que optaram pela alternância no ocupante do Palácio do Planalto. É não saber perder.
Quase dois meses se passaram desde a proclamação do resultado das urnas e milhares de brasileiros vivem uma ilusão, alimentada por pessoas que ganham muito dinheiro com isso em grupos do Telegram, seja com rifas, assinaturas, "aulas", ou no YouTube, com vídeos monetizados. A cisão social interessa a muita gente. É um tema que, com certeza, será objeto de estudos na sociologia, na ciência política, na antropologia nos próximos anos. Um fenômeno que vai levar tempo para ser entendido e superado.
Feliz Natal!
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