EDITORIAL

Visão do Correio: Covid é teste para China

Correio Braziliense
postado em 20/12/2022 06:00
 (crédito: pikisuperstar/Freepik)
(crédito: pikisuperstar/Freepik)

A forma desordenada com que a China abriu mão de sua política de "covid zero" está levando o caos ao país. Dados mais recentes apontam que o coronavírus está se espalhando rapidamente, com novos registros de mortes, o que tem obrigado o comércio a suspender as vendas e a indústria a interromper a produção. Os hospitais estão lotados e, nas farmácias, há limites de atendimento à população devido à escassez de medicamentos e de testes para a virose. Motoristas de caminhão têm abandonado o trabalho por estarem infectados. A cadeia de suprimentos foi interrompida e não há perspectivas de retomada na distribuição de mercadorias. O governo não tem conseguido controlar a situação. Muito pelo contrário.

Um grupo, em especial, vem sofrendo com maior intensidade ante o descontrole da covid-19 na China: idosos que vivem em asilos. Para protegê-los, as instituições têm sido obrigadas a isolá-los do contato externo. A preocupação é tamanha, que funcionários dessas casas de repouso não podem ir para casa, para não correr o risco de se contaminarem e de infectarem os pacientes. Só está sendo permitida a entrada de alimentos e de remédios, esses últimos, quando disponíveis a preços altíssimos. Responsáveis por esses estabelecimentos dizem que estão operando no limite, pois, com a falta de entregadores, o risco de faltar comida e medicamentos é grande. Vários dizem que se sentem abandonados pelo governo.

A percepção geral é de que a China não se preparou para lidar com a nova onda da covid. O governo, autoritário, acreditou que somente a adoção de um rigoroso lockdown seria suficiente para evitar o desastre. Agora, com o relaxamento das medidas restritivas, em resposta aos crescentes protestos nas ruas, vê-se que as autoridades não se preocuparam com um amplo processo de vacinação, a ação mais eficaz para enfrentar a doença. Não por acaso, milhões de idosos estão vulneráveis porque não receberam todas as doses do imunizante. Se não correr nessa direção, de vacinar em massa a população, o gigante asiático será engolido pela crise sanitária. É tudo o que o mundo não precisa.

Antes mesmo de a covid explodir na China, a economia do país já vinha em um franco processo de desaceleração. Com a suspensão da atividade de importantes setores, o mergulho da atividade tenderá a ser mais profundo, impactando todo o globo. Ainda não é possível medir, com clareza, quanto a crise sanitária poderá tirar do Produto Interno Bruto (PIB) chinês. Mas não será pouco, sobretudo se o governo de Xi Jinping não assumir seus erros e corrigi-los. A população local está saturada do amadorismo com que a pandemia vem sendo gerida, sem transparência e sem respeito ao que determina a ciência.

A China é o maior exportador do mundo. Durante o auge da crise sanitária, entre 2020 e 2021, explicitou-se a extrema dependência do mundo pela indústria asiática. A interrupção, naquele momento, das atividades no país desestruturou a rede de suprimentos no planeta. Muitos produtos, especialmente tecnológicos, sumiram do mercado. Essa cadeia vinha se reconstruindo aos poucos, pois Estados Unidos e Europa decidiram reativar suas indústrias. Contudo, o gigante asiático continua dando as cartas na distribuição. Assim, a paralisia que ocorre agora tende a minar a regularização da compra e venda de mercadorias.

Para o Brasil, problemas severos na China pesam mais, uma vez que aquele país é o maior comprador de produtos brasileiros — grãos e minérios. Alimentos serão os últimos a serem atingidos, porém, a demanda pelas commodities minerais deve diminuir muito, impactando a balança comercial brasileira. Os sinais de alerta já foram ligados. A torcida é para que a China aja com rapidez e faça o dever de casa. Não interessa para o mundo ver uma potência de joelhos.

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