Copa do Mundo

Artigo: Olhem para cima

Ricardo Nogueira Viana
postado em 16/12/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

RICARDO NOGUEIRA VIANA - Delegado Chefe da 6ª DP, é professor de educação física

Encerrando o ciclo da era Tite e quem sabe até do jogador Neymar, o Brasil, mais uma vez de forma prematura, encerra a sua participação na Copa do Mundo do Catar. São 20 anos da conquista do pentacampeonato mundial, em 2002. Desde então, a esquadra brasileira apenas alcançou um pífio quarto lugar na Copa sediada em nosso território. Se fôssemos fazer um retrospecto desde a primeira conquista, em 1958, poderíamos indigitar que, além de um grande time, as seleções brasileiras vencedoras esbanjavam não só jogadores, mas gênios. E não é o que se vê agora.

Depois da ressaca da derrota para a Croácia, é quase unânime opinar que não tínhamos o melhor time. Argentina, Marrocos e mais uma vez a França mostraram que trazem um padrão de jogo diferente e mais eficaz do que o apresentado pela nossa Seleção. Plantel que há três Copas do Mundo traz uma dependência física e emocional do atacante Neymar, jogador que, na Copa sediada no Brasil, saiu devido a uma lesão — pouco após amargamos o trágico 7x1 para Alemanha.

Quatro anos depois, na Rússia, ele nada acrescentou e ainda saiu desprestigiado de tanto que rolou e gritou em amadoras encenações de faltas. E agora, nada de novo. Apesar de ter feito um gol na prorrogação, Neymar perdeu várias oportunidades de definir a partida contra a Croácia e contribuiu para que o time adversário, apesar da inferioridade técnica, pudesse trabalhar a bola e aproveitar uma de suas poucas oportunidades de gol. Na disputa de pênaltis, ganhou a seleção mais competente.

Não é preciso rememorar a escalação das equipes de 1958, 1962 e 1970, para saber que, além de um elenco fabuloso, tínhamos em campo os imortais Pelé e Garrincha. Portanto, vamos aos mortais. Na escalação da Seleção de 2002, tínhamos nada menos que Roberto Carlos, Kaká, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho. Os últimos quatro ganharam a Bola de Ouro, isto é, foram considerados os melhores do mundo. Fica a pergunta: é possível encontrar alguma correspondência entres esses jogadores e a Seleção Brasileira de hoje? Não, sinceramente não. Quer dizer, o Brasil, para ser campeão, precisa de um técnico agregador, de um bom time, além de talismãs, jogadores que se diferenciam não só pela qualidade técnica, mas pelo poder de jogar, liderar e vencer.

Tite é um estudioso. Levou o mediano time do Corinthians aos títulos de campeão Brasileiro em 2011, da Copa Libertadores em 2012 e, nesse mesmo ano, de campeão do Mundo, derrotando o poderoso Chelsea. Após as conquistas, Tite preparou-se e chegou à Seleção Canarinho. Perdeu a Copa de 2014, após um tropeço inesperado na até então tímida seleção belga. Foi mantido no cargo em busca de dar continuidade ao seu trabalho, situação rara no Brasil. Entretanto, apesar de ter um time, faltaram-lhe prodígios. No seu tabuleiro, o Rei, ou melhor, o Ney, não soube turbinar seus peões e suas torres.

Os jogos da Seleção foram acompanhados de perto pelos heróis do penta: Roberto Carlos, Ronaldo e Rivaldo, os quais se encontravam na tribuna de honra. Todos formais, de terno e gravata, esbanjando sobrepeso, mas externando autoridade. Era só os jogadores olharem para cima com o intuito de buscarem motivação. Podem até ter feito isso, mas o Brasil só tinha um time e esquema tático.

Faltaram talentos que pudessem desbancar a tímida, porém mais concisa e preparada emocionalmente seleção croata. O que se viu no último jogo da nossa Seleção presenciamos também na Copa de 1982. Com um adendo: aquele grupo tinha um time e também ícones — Zico, Sócrates, Éder, Júnior encantavam o mundo na composição daquela Seleção Canarinho, contudo, retornaram para casa após a precoce eliminação pela Seleção italiana, a qual se sagrou campeã daquele mundial. Vai entender...

A Copa terminou para nós e agora se inaugura novo ciclo, o qual tem como início a escolha de novo técnico. Um novo guia que deverá formar o seu grupo e garimpar algo mais do que talentos. Neymar? Talvez sim, pois ele é sem dúvida o que temos de melhor, mas já foi visto que não é o expoente de sua geração e que também não está fazendo a diferença. Terceira Copa que passa despercebido e nunca ganhou uma Bola de Ouro.

Por coincidência, as seleções de Messi, de Modric e do jovem Mbappé — atletas em evidência, continuaram na disputa. Richarlisson, Vinícius Junior e Rodrygo são craques, mas creio que não são talismãs. Os europeus já mostraram que são obedientes aos esquemas táticos e se adaptam às adversidades para chegar aos seus objetivos. Somente com estratégia, o Brasil não leva o troféu.

Voltamos para casa para mais um choro de quatro anos, entretanto é bom saber que todos os times que ali estão, ao olharem para cima e visualizarem nomes como Ronaldinho, Rivaldo e Roberto Carlos, fazem-lhes reverência. Caso quisessem, esses lumiares das quatro linhas, mesmo aposentados, teriam lugar garantido em qualquer das seleções do mundial. Quanto à Seleção marroquina? Copa do Mundo, sua danada!

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