novo governo

Artigo: Uma manobra simples é sempre mais eficaz

Otávio Rêgo Barros
postado em 12/12/2022 06:00
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 11/4/19)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 11/4/19)

OTÁVIO RÊGO BARROS - General da Reserva, foi chefe do Centro de Comunicação Social do Exército

Há uma máxima na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), cujo curso habilita o oficial à promoção aos postos mais altos da carreira militar, que é repetida à exaustão: manobra simples é sempre mais eficaz.

Durante as provas, o aluno, ao responder aos problemas propostos pelos instrutores, precisa focar constantemente os princípios de guerra nas suas soluções.

Esses princípios nos acompanham ao longo da carreira e se incorporam ao nosso modo de encarar e solucionar os desafios do dia a dia, até mesmo fora da caserna.

A formulação do enunciado, o estudo da intenção do comandante, a contabilidade dos meios, a avaliação dos antagonismos e o curso de ação final são fases que assemelham a análise de uma missão militar aos planejamentos estratégicos na gestão das empresas e nas ações políticas de governo.

Henry Mintzberg, em seu clássico sobre administração e planejamento Safári de estratégia (Bookman, 2010), afirma: se a formulação da estratégia é um processo de planejamento e análise, cognição e aprendizado, também é um processo de negociação e concessões entre indivíduos, grupos e coalizões em conflito.

Em época de mudanças sensíveis, quando o poder é realinhado de maneira imprevisível, surgem as divergências nas arenas políticas. Nessas condições, muitas estruturas mudam de dono, e as pessoas envolvidas nos processos sentem-se particularmente inseguras quanto aos seu destino ou ao seu esforço de trabalho.

Estamos em um complicado momento político, fruto da natural ascensão de um novo governo, após renhida disputa nas urnas. Respira-se certa instabilidade institucional.

No campo militar, precisaremos nos debruçar sobre a Política e Estratégia de Defesa Nacional, documentos basilares, que foram formulados pelo Executivo, mas não analisados pelo Congresso, a fim de dar curso estável ao ambiente de segurança interna e externa de nosso país.

As mudanças podem conduzir a contradições como a sustentação de centros de poder superados, ou a introdução de novos centros injustificados, ou, mesmo, a paralisia de um sistema até o ponto em que seu funcionamento é interrompido.

Defesa Nacional, sustentáculo para todos os campos de poder, não pode ser esquecida ou desconstruída ao sabor de vontades revestidas de ideologia, a cada novo governo.

Uma sociedade madura exige que a instituição que promove a sua defesa seja capaz de seguir estratégias claras e deliberadas de natureza política, que sejam transformadas em ações táticas e operacionais nos níveis de execução.

Uma sociedade madura exige que os decisores políticos e militares das estrutura de defesa assumam suas parcelas de responsabilidade e toquem adiante os projetos que lhes foram confiados.

Uma sociedade madura exige que seus soldados estejam sempre preparados, promovendo as condições materiais e emocionais que os fortaleçam como instrumento de Estado e servo do povo.

A escolha anunciada na última sexta-feira, 9 de dezembro, do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, um homem voltado ao diálogo, deixa transparente para a sociedade a preocupação do presidente eleito com uma manobra simples, por consequência, com amplas chances de ser eficaz. O ministro da Defesa e os comandantes a serem escolhidos, certamente, darão continuidade aos trabalhos em andamento imaginados em gestões anteriores.

Identificam que o tema defesa perpassa o período de um mandato. Ao mesmo tempo, reavaliarão os projetos, ação rotineira do ciclo de planejamento e execução, a fim de identificar possibilidades de melhoria.

Como planejadores estratégicos e conhecedores dos princípios de guerra farão uso das interações modernas entre o estamento civil e o militar para moderar as decisões.

Eles saberão negociar concessões tanto quanto firmar posições para a saúde da Defesa Nacional, para a manutenção de valores e tradições das Forças, para fortalecimento da elevada confiança reinante na opinião da população e, finalmente, para apaziguamento das tensões dos últimos tempos. Contam com o nosso apoio. Boa sorte! Paz e bem.

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