COPA DO MUNDO

Artigo: O que estamos perdendo, afinal?

Ana Dubeux
postado em 11/12/2022 06:00
 (crédito: Reprodução/Twitter @zabeleoliver)
(crédito: Reprodução/Twitter @zabeleoliver)

O que nós torcedores podemos aprender com a derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo do Catar? Essa pergunta ficou martelando na minha cabeça depois de ver e ouvir relatos sofridos, sobretudo de crianças e adolescentes, que nunca tiveram a alegria de ver o Brasil erguer a taça de campeão do mundo. O choro é a expressão mais genuína, inclusive da criança que mora em nós, da decepção.

O futebol, além de uma indústria, é uma paixão e uma magnífica fábrica de sonhos, sensações, emoções. Um tambor no peito. O "rumo ao hexa" funcionou como comida para famintos. Brasileiros estavam precisando se fartar de algo muito bom, diria sensacional, para ter um pouco de conforto. E assim fomos. Salivando pelo gol. Vendo a fervura, colocando a mesa, servindo as bebidas e os aperitivos. O prato principal... faltou!

Erraram a receita, o tempo, os ingredientes? Erraram o chef, o cozinheiro, a equipe toda? Erramos nós, novamente embalados, catapultados por musiquinhas, dancinhas, comerciais? Você já está lendo certamente vários manuais da derrota, análises minuciosas de gente que se diz especialista, de gente que diz que avisou, de gente que agora está listando cinco, sete, 10 erros e apontando os culpados.

Tudo isso faz parte. Mas se repete a cada derrota com o mesmo enfado. O Brasil não aprende com suas derrotas, nem com suas dores. E nós também não aprendemos a fazer diferente depois de guardar a camisa no armário e esperar mais quatro anos. Refletir verdadeiramente, ninguém quer. Mas é muito rápido e fácil arrumar culpados.

Talvez o que os europeus tenham aprendido é lidar com suas dores e a não se desestruturar totalmente com elas. Alguns chamam de frieza; os mais modernos, de resiliência. O fato é que eles se protegem e redirecionam rumos com muito mais facilidade.

Já nós, os brasileiros, não sabemos o que fazer com as nossas dores, organizar a bagunça emocional que fica depois das ameaças e erros. Só queremos que desapareça o desconforto, e a forma mais fácil de lidar com isso é descontando a raiva. Lá vem a culpa personificada, a degradação pública, o julgamento, o dedo apontado. Afinal, alguém tem que pagar pela decepção que estamos sentindo.

A dor é legítima; a raiva, também. Mas alimentar esses bichos não resolve nada. Não temos a decência de olhar para os erros, todos eles (do futebol ao racismo; da destruição do meio ambiente à ditadura), em todas as escalas, e aprender. Queremos louvar em um minuto, engrandecer técnico e jogadores como salvadores de uma pátria falida num momento e, no outro, jogá-los na arena para serem comidos por leões.

O que nos falta é maturidade e equilíbrio. Estamos perdendo a oportunidade de aprender. Fazer festa é bom, mas antes da hora é tão somente enaltecer as expectativas. Precisamos fazer tudo com mais seriedade se quisermos conquistar vitórias reais, sólidas, realmente grandiosas, e crescer como nação. Vale para o futebol e para todo o resto.

Eu confesso que desta vez sofri menos, bem menos. Talvez esteja crescendo um pouco nessa jornada. Mas continuo rindo com os memes. Rir da própria desgraça é algo que o brasileiro aprendeu faz tempo.

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