Opinião

Visão do Correio: O estresse feminino

Quando se trata de estresse e raiva, a diferença entre os gêneros tem crescido e tomado uma certa distância

Correio Braziliense
postado em 09/12/2022 06:00
 (crédito:  Claúdio Rabelo/CMBH)
(crédito: Claúdio Rabelo/CMBH)

Muitas vezes ainda pressionadas pela 'dupla jornada' em pleno século 21 e outros fatores de pressão, as mulheres têm a saúde comprometida por múltiplos fatores. Segundo um levantamento global da BBC, com base em 10 anos de dados da Gallup World Poll, elas estão ficando cada vez mais irritadas.

A pesquisa é robusta, anual e inclui mais de 120 mil pessoas em mais de 150 países, perguntando, entre outras coisas, que emoções elas sentiram durante grande parte do dia anterior.

O estudo mostra que, desde 2012, comparativamente aos homens, são mais frequentes os relatos de mulheres que expressam sentimentos como tristeza, estresse, raiva e preocupação, embora nos últimos anos essas queixas tenham aumentado em ambos os sexos.

Outro dado que remete à pergunta inicial é que, quando se trata de estresse e raiva, a diferença entre os gêneros tem crescido e tomado uma certa distância, diferentemente da escala observada há uma década, especialmente nesses últimos anos "pandêmicos" — vale lembrar.

No entanto, há peculiaridades de um país para outro. No Camboja, na Índia e no Paquistão, a diferença dos níveis de "raiva" entre homens e mulheres, em 2021, chegou a 17 pontos e 12 pontos percentuais, nos dois últimos, respectivamente. Essa grande margem pode ser explicada pelas crescentes tensões vividas nessas regiões, onde as mulheres passam por um processo de escolarização, profissionalização e autonomia financeira. No entanto, ainda vivem em um sistema patriarcal em meio à própria emancipação, o que gera muita raiva.

No Brasil, os dados também são representativos. Quase seis entre cada 10 mulheres disseram ter se sentido estressadas durante grande parte do dia anterior à entrevista, índice bem acima dos 4 entre cada 10 homens que responderam ao levantamento. Na Bolívia e no Equador, esse índice de mulheres chegou a quase metade delas.

Um outro estudo feito por pesquisadores do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), entre maio e junho de 2020, com pessoas de todas as regiões do país, mostrou que as mulheres foram as mais afetadas emocionalmente durante a pandemia, respondendo por 40,5% de sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse. A pesquisa ouviu 3 mil voluntários.

Como solução ou como forma de minimizar a raiva e o estresse latentes entre o sexo feminino, uma terapeuta de saúde mental e mãe de duas filhas pequenas teve uma ideia interessante. A partir de um grupo de mães intitulado "The school of mom", ela percebeu que nos encontros virtuais elas citavam muitos sentimentos negativos nas conversas, como ansiedade, medo, solidão, ressentimento, raiva e culpa. Foi aí que ela decidiu convidar as mulheres para se reunirem em um local para "gritarem".

A iniciativa deu tão certo que os principais jornais televisivos dos Estados Unidos cobriram o evento, que se dividiu em cinco rodadas de gritos. Usando bastões brilhantes, as mulheres disseram que foram "momentos de libertação e fuga dos problemas" e relataram que, após as sessões, tiveram um sentimento: paz.

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