Análise

Artigo: Toda forma de amor

No Brasil, impõe-se uma pena de morte velada a quem é homossexual. Desde 1999, somos a nação que mais mata pessoas LGBTQIA no mundo

Rodrigo Craveiro
postado em 07/12/2022 05:00
 (crédito: TERCIO TEIXEIRA / AFP)
(crédito: TERCIO TEIXEIRA / AFP)

O amor se basta. Não precisa de rótulos, não aceita resistência, dispensa vista grossa e se blinda contra o ódio. Amor é amor. É sentimento do mais puro, um querer bem que brota do fundo da alma. É querer caminhar juntos. Ter cumplicidade em uma simples troca de olhar. Sentir atração, desejo, felicidade. Não consigo entender o motivo pelo qual pessoas se sentem ofendidas pelo amor de outras. Porque algumas teimam em problematizar o que não é problema. Insistem em tratar quem ama alguém do mesmo sexo como se fossem párias da sociedade. Como se tivessem poder algum sobre a vida alheia ou o direito de impor uma heteronormatividade que somente existe na cabeça dos intolerantes e dos extremistas.

No Brasil, impõe-se uma pena de morte velada a quem é homossexual. Desde 1999, somos a nação que mais mata pessoas LGBTQIA no mundo. Em 2021, foram 300 mortes — a maioria delas por esfaqueamento, disparos de armas de fogo e espancamentos. O discurso de ódio aumentou a ameaça a essa parcela da população. Na última segunda-feira, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sancionou uma lei que bane a chamada "propaganda LGBTQIA " na internet, em livros, na publicidade ou em público. Acredite se quiser, até mesmo o desenho Peppa Pig é rotulado como uma ferramenta que "transforma" crianças em gays.

Até mesmo os Estados Unidos, que se colocam como a terra das liberdades civis e da democracia, caminha por terrenos movediços. A Suprema Corte norte-americana inclinou-se a favor de Lorie Smith, uma designer que rejeitou fazer sites de internet e convites de casamento para casais homossexuais. Moradora de Littleton (Colorado), Lorie afirmou que forçá-la a produzir esse tipo de material representaria uma violação de seu direito à livre expressão.

A homofobia muitas vezes se esconde, ou mesmo se oficializa, nos preceitos religiosos. Durante a Copa do Mundo do Catar, a simples exibição da bandeira com as cores do arco-íris, símbolo do movimento LGBTQIA , foi reprimida pelas forças de segurança locais. Assim como a nação da Península Arábica que sedia o maior evento de futebol do planeta, outros países islâmicos criminalizam as relações sexuais e afetivas entre pessoas do mesmo sexo. Algumas delas impõem até mesmo a pena de morte.

Não deveria existir qualquer tipo de punição a quem ama. O amor deveria ser eximido de fanatismo religioso, de hipocrisia, de conservadorismo preconceituoso, de ódio assassino. Não se deve proibir o amor. Nem tentar determinar a quem cabe amar. O amor é universal, onipresente, único, democrático. Toda forma de amor vale a pena. Qualquer maneira de amor vale a pena.

 

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