Lilian Sadeck — Médica neonatologista, Centro Neonatal do Instituto da Criança (HC/FMUSP)
Gerar uma vida é, sem dúvida, uma das sensações mais humanas que se pode ter e, independentemente da maneira como ocorra, o nascimento de uma criança é algo muito marcante na vida de uma família. O desejo sempre é de uma gestação tranquila e um parto sem preocupações, mas algumas vezes isso não acontece.
Todos os anos, 15 milhões de bebês prematuros nascem no mundo. Isso representa mais de 10% do total de partos. No Brasil, são 340 mil partos prematuros por ano, o equivalente ao nascimento de 6 bebês antes da hora a cada 10 minutos.
Para quem não sabe, a prematuridade é quando um bebê vem ao mundo antes de completar as 37 semanas (9 meses) de gravidez, e diversos fatores podem provocar o fim de uma gestação antes do momento esperado, como hipertensão arterial, diabetes gestacional, infecção urinária, idade materna, malformação fetal e demais patologias que atingem a gestante. A maioria desses problemas pode ser detectada e tratada durante o pré-natal, prevenindo ou minimizando os riscos para o bebê.
Porém, quando o parto prematuro acontece, em alguns casos, pode ser uma montanha-russa de emoções que famílias que passaram por isso afirmam ser marcante e nem sempre da melhor maneira. Os cuidados da prematuridade vão além do baixo peso: um prematuro pode precisar de cuidados especiais na UTI, o que pode aumentar em três vezes o risco de sequelas futuras para sua vida adulta.
Na experiência clínica, percebo que a falta de contato pele a pele, do toque, da amamentação e o adiamento do tão sonhado momento de ter o bebê no braço, deixam marcas profundas; sem mencionar, claro, o medo constante de que o bebê não resista. Não à toa, essa vivência mexe com a saúde mental de pais e mães de UTI neonatal. Segundo pesquisa da ONG britânica Bliss, das 589 pessoas ouvidas, 23% desenvolveram ansiedade, 16% transtorno de estresse pós-traumático, e 14% depressão pós-parto.
E, junto a tudo isso, é preciso estar atento aos cuidados com os pequenos tão frágeis. A imunização deve ser um dos temas centrais, uma vez que, dependendo do período gestacional em que se dá o nascimento, a criança acaba vindo com o sistema imunológico imaturo. Os anticorpos maternos passam da mãe para o feto a partir da 30ª, 32ª semana e vão aumentando progressivamente. Sendo assim, aqueles que nascem antes das 34 semanas contam com menos proteção biológica. Além disso, algumas dessas crianças não conseguem receber o aleitamento materno e se tornam ainda mais vulneráveis e suscetíveis às infecções.
Por causa disso, os prematuros têm a recomendação de vacinas especiais, ainda que o calendário seja o mesmo de bebês nascidos a termo, como algumas tecnologias que podem provocar menos reações adversas. Um exemplo é a vacinação dos prematuros extremos com vacinas combinadas acelulares, que oferecem proteção para mais de uma doença com a aplicação de uma única injeção. Elas são compostas apenas pelas proteínas responsáveis por gerar a resposta imune.
As vacinas especiais para esse público estão disponíveis nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (Crie) e têm como benefícios menor número de eventos adversos para o bebê, o que contribui também para a adesão ao esquema vacinal. Todo estado brasileiro tem, pelo menos, um Crie em atividade — ao todo, são 52 unidades.
A imunização contra meningite, pneumonia, coqueluche, hepatite B, rotavírus, gripe e as demais do primeiro ano de vida devem ser aplicadas segundo a idade cronológica da criança, independentemente de seu peso ou idade gestacional. A prevenção das infecções causadas pelo vírus sincicial respiratório (VSR) também é fundamental, pois esse agente é o principal responsável pelas infecções pulmonares de crianças, em especial bebês e prematuros, com quadros de pneumonias e bronquiolite associadas a ele.6
E se a imunização é fundamental, uma rede de suporte a estes pais também é. Neste sentido, destaco a Organização Não Governamental Prematuridade que é dedicada à prevenção do parto prematuro e à garantia dos direitos dos bebês prematuros e os de suas famílias. O SUS, por meio dos Crie, também é um caminho de saúde e acolhimento para estas famílias.
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