Editorial

Visão do Correio: Mais integração e desenvolvimento

Numa vitória monumental para o Brasil, o economista Ilan Goldfajn assumirá, em 19 de dezembro, a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Criada em 1959, com o apoio do então presidente brasileiro Juscelino Kubitschek, a instituição terá vital importância para liderar investimentos na América Latina, sobretudo em infraestrutura, com foco na preservação do meio ambiente e na redução das desigualdades sociais que marcam a região. Estão em andamento hoje, nos países latinos, 661 projetos, totalizando US$ 562 bilhões, dos quais 82 empreendimentos no Brasil, que, apenas em 2021, recebeu US$ 12,5 bilhões em financiamentos.

Não há como se falar em crescimento econômico sustentado sem investimentos em infraestrutura. Sozinhos, os governos da América Latina não têm como tocar projetos nas áreas de energia, telecomunicações, tecnologia e transportes, por estarem endividados e pela prioridade em destinar os desembolsos para saúde, educação e segurança pública. Nos últimos anos, por uma série de razões, o BID acabou se distanciando de suas prioridades. Quem perdeu com isso foi a região, que necessita voltar a impulsionar o crescimento, o caminho mais promissor para a geração de emprego e renda.

Goldfajn já sinalizou os temas que nortearão a sua gestão, de cinco anos: inclusão social e equidade, produtividade e inovação, integração econômica e enfrentamento da crise climática, passando, ainda, por igualdade de gênero e diversidade. A pauta, como o próprio economista ressaltou, se encaixa nas propostas do futuro governo brasileiro. Essa convergência é mais do que bem-vinda, uma vez que as demandas da população são urgentes. O Brasil, como destacou o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, em entrevista ao Correio, cresceu, em média, menos de 0,5% ao ano na última década.

Saiba Mais

O primeiro brasileiro a ser eleito para o comando do BID está coberto de razão quando diz que a instituição precisa retomar sua liderança na América Latina. Todos os indicadores apontam a estagnação econômica da região, que voltou a conviver com inflação alta e juros proibitivos. A miséria também cresceu, resultado da ampliação do fosso que separa ricos e pobres. Portanto, os governos que tanto reivindicam um papel mais ativo do banco não podem se omitir. Têm como obrigação apresentar projetos sólidos, que garantam mais desenvolvimento. É relevante destacar também que a América do Sul tem o maior ativo para o planeta, a Amazônia, que deve ser preservada a todo custo.

Há várias formas de se combater o aquecimento global. E o BID tem de ser — e será, segundo Goldfajn — a principal plataforma para a redução na emissão de gases de efeito estufa na América Latina. Os créditos liberados pela instituição levam essas questões em consideração. Países que estão sendo afetados por furacões e enchentes, eventos que se tornarão mais frequentes, tendem a receber atenção especial. É possível, ainda, garantir a manutenção da biodiversidade, por meio de financiamentos que preservem o meio ambiente.

O BID, com Ilan Goldfajn à frente, é uma das chaves para o progresso latino-americano, tão desejado, mas adiado por escolhas erradas, sejam políticas, sejam econômicas. O futuro pede integração, foco em investimentos, gestão eficiente, visão social e ambiental. Certamente, com o banco caminhando nessa direção, a iniciativa privada tenderá a embarcar em projetos que façam a diferença. Todos têm a ganhar. Desperdiçar oportunidades é condenar os mais vulneráveis à desesperança. Mãos à obra.