Opinião

Visão do Correio: EUA e China optam pelo diálogo

Apesar das enormes divergências entre os dois países, os líderes reconheceram que a população global espera deles serenidade e enfrentamento dos problemas que afligem milhões de cidadãos, como a fome e as mudanças climáticas

Os presidentes das duas maiores potências econômicas do mundo deram um importante sinal de que civilidade e respeito ainda são princípios que devem ser seguidos pela sociedade. Joe Biden, dos Estados Unidos, e Xi Jimping, da China, se encontraram em Bali, na Indonésia, às vésperas da reunião do G20, que começa hoje, e assumiram compromissos claros de não empurrarem o planeta para uma nova versão da Guerra Fria.

Apesar das enormes divergências entre os dois países, os líderes reconheceram que a população global espera deles serenidade e enfrentamento dos problemas que afligem milhões de cidadãos, como a fome e as mudanças climáticas, e, claro, empenho para o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Nos últimos anos, a escalada da tensão entre Estados Unidos e China atingiu níveis preocupantes, a ponto de a possibilidade de um ataque nuclear de ambos os lados entrar no radar do mundo. Foram várias as demonstrações de forças. Felizmente, Biden e Xi decidiram abrir as portas para o diálogo, independentemente das divergências gritantes entre norte-americanos e chineses.

A conversa entre eles, que durou quase três horas, ganhou mais relevância, pois ocorreu em um momento de fortalecimento tanto de Biden, o grande vencedor das eleições para o Congresso dos EUA, com os democratas mantendo o controle do Senado, quanto de Xi, que conquistou um inédito terceiro mandato.

O compromisso dos dois presidentes foi o de manter uma linha aberta e direta de comunicação entre eles. Biden ressaltou que EUA e China têm a responsabilidade de mostrar ao mundo que são capazes de lidar com as próprias diferenças, impedindo que a competição entre os países se transforme em conflito. Xi reforçou que o planeta espera que norte-americanos e chineses lidem de maneira certa com essa relação. Apesar do ceticismo de parte da comunidade internacional, a torcida é para que as promessas feitas após o primeiro encontro presencial entre eles não fiquem apenas na retórica. Todos têm a ganhar com os dois gigantes exercendo os papéis de pacificadores, não de fontes frequentes de turbulências, que alimentam incertezas e inibem uma recuperação mais forte da economia global.

Os próximos meses serão primordiais para que Biden e Xi explicitem, efetivamente, de que lado da história eles estão. Até porque, depois do encontro, a Casa Branca admitiu que, a despeito dos avanços nas conversas com o líder chinês, os Estados Unidos "continuarão a competir vigorosamente" com o país asiático, visto, em Washington, com a maior ameaça à segurança militar do território norte-americano. A China, por sua vez, não abre mão de projeto de unificação, que envolve Taiwan, e refuta críticas ao que classifica como interferências estrangeiras que apontam sérios desrespeitos aos direitos humanos, com minorias étnicas sendo "reeducadas" e submetidas a trabalhos forçados.

Biden e Xi ainda terão outras oportunidade de, ao longo da reunião do G20 — grupo que reúne as 19 economias mais desenvolvidas do planeta e a União Europeia —, reforçarem os compromissos com um mundo menos tensionado. Espera-se, também, que todas as lideranças presentes — o Brasil optou por ficar de fora — não fujam das responsabilidades de enfrentarem as graves crises pelas quais passam quase todos os países.

A polarização política, que fortaleceu a extrema direita, tornou o atual contexto ainda mais complexo. Portanto, boa convivência, solidariedade, visão social, programas de geração de empregos e renda e compromisso com as vítimas das alterações climáticas devem estar na pauta de todos os governantes. São tempos de urgências.

 

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