EDITORIAL

Visão do Correio: O Brasil clama por responsabilidade

A inflação é o pior dos impostos para os mais pobres. Não há programa social que se sustente com o custo de vida em disparada. Reajustes consecutivos corroem o poder de compra, e o benefício que poderia ser um alento para quem mal tem o que comer se torna um remendo. O Brasil, sabe-se, tem um histórico terrível de descontrole de preços. A hiperinflação que prevaleceu entre os anos de 1980 e o início da década seguinte resultou num dos países mais desiguais do mundo. Portanto, que os responsáveis por comandar esta nação tão sofrida e com tantos problemas por resolver tenham a exata noção de que a estabilidade econômica é vital para que os menos favorecidos possam ter perspectivas melhores de vida.

Todas as experiências bem-sucedidas no mundo apontam que o controle da inflação está associado, diretamente, à responsabilidade fiscal. O ajuste das contas públicas não pode ser visto como uma amarra, mas, sim, como um aliado que permite a governos executarem políticas que beneficiem a todos — cidadãos, empresas, investidores. A credibilidade e a previsibilidade vindas da boa gestão dos recursos recolhidos por meio de tributos permitem que se possa planejar o futuro. Nesse ambiente saudável, os cidadãos sabem que podem consumir porque terão emprego e renda para bancar suas despesas. Já as empresas têm a segurança para ampliar os investimentos em seus negócios, pois terão para quem vender.

Esse é o caminho do qual o Brasil não pode abrir mão. O país não cresce há mais de 10 anos. Nesse período, a taxa média de expansão da economia foi de 0,3% ao ano. Nada diante do quadro dramático que se vê nas ruas, com milhões de desempregados e miseráveis que fuçam latas de lixo atrás de restos de alimentos. É hora de pavimentar o caminho para que essa realidade cruel se resuma às tristes páginas da história. Responsabilidade fiscal e responsabilidade social devem andar juntas para que os desassistidos de hoje e as próximas gerações tenham dignidade, cidadania, sonhos. O Brasil não pode insistir nos erros.

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Numa campanha política, cabem bravatas e promessas. Porém, definidos os resultados das urnas, os vencedores devem descer imediatamente do palanque para que atendam aos anseios da população. Os últimos quatro anos foram pródigos ao mostrarem que governantes agarrados a projetos de poder a qualquer custo impõem custos altíssimos à sociedade. Não é aceitável que o país seja obrigado a ver esse filme repetido na próxima temporada que começa em 2023. Todos anseiam pela volta à normalidade, e isso implica, além da pacificação nacional, projetos consistentes que levem ao crescimento sustentado da economia. É ele que será a base para que os ventos da prosperidade voltem a soprar abaixo da linha do Equador.

A inflação, reforce-se, voltou a arreganhar os dentes. Depois de três meses nas sombras, devido a manobras do governo para passar uma falsa sensação de bem-estar, a velha senhora indicou que está viva e pronta para se alimentar dos desacertos daqueles que vão administrar o país pelos próximos quatro anos. Os avisos estão dados, e o tempo para que a responsabilidade se imponha é curto e começou a correr. A lua de mel característica depois que os votos são contados será do tamanho da pressa que a população tem de ver o Brasil entrando nos eixos, sem arroubos de populismo.

Nesse país de tantas demandas, Executivo e Legislativo não podem se prender a interesses de grupos específicos. Têm, por obrigação, que buscar o consenso em que os interesses da maioria prevaleçam. A democracia tão atacada indicou que está viva e pujante, contudo, só será plenamente exercida se os que estão excluídos do contexto social tiverem a perspectiva de que, finalmente, poderão ser considerados cidadãos.