A promessa é de reconstrução do país. E há tanto a ser feito. Em especial pela camada mais vulnerável da população — crianças e adolescentes —, que deveria ser tratada com "absoluta prioridade", como determina a Constituição, mas cujos direitos são repetidamente desrespeitados.
O "compromisso número 1" — conforme prometido — é combater a fome. Causa de urgência máxima no Brasil. Hoje, por exemplo, 37,8% dos lares onde vivem crianças de até 10 anos não conseguem acesso pleno e permanente a alimentos. Uma crueldade incomensurável. Garantir que meninos e meninas façam ao menos as três principais refeições do dia é o dever mais básico de todo governante.
A segurança alimentar passa, ainda, por uma merenda escolar robusta. O que não tem acontecido. A verba destinada à compra de provisões para atender escolas não é reajustada desde 2017. Como resultado da carência, há relatos de colégio que carimba mão de aluno para não repetir prato e que divide um ovo para quatro crianças, como mostrou reportagem do Estadão. Apesar disso, o governo vetou o reajuste.
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O enfrentamento à violência contra crianças e adolescentes é outro tópico a ser retomado com a máxima celeridade. Nos últimos anos, minguou a aplicação de recursos destinados à proteção deles. Em meados do mês passado, reportagem do G1 mostrou que, em 2020 — quando dispararam os casos de abusos sexuais e outros tipos de agressões contra meninos e meninas — não foi executado nem metade do orçamento de R$ 900 milhões previsto para o combate a essas atrocidades.
Na linha da reconstrução, há, também, o desafio de fazer o Brasil voltar a ser exemplo mundial de vacinação. O país, cujo Plano Nacional de Imunização tornou-se referência internacional, aparece agora entre os 10 no planeta com o pior desempenho na proteção de meninos e meninas. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou que, no ano passado, três em cada 10 crianças brasileiras não receberam os imunizantes necessários. Entre os motivos para a baixa adesão estão percepção de que as doenças não são perigosas, fake news sobre imunizantes, movimento antivacina, falta de campanhas massivas do governo e postura de autoridades públicas que tentam demover a população de levar os filhos para receber as doses. Assim, abrimos a porta para enfermidades gravíssimas, como sarampo e poliomielite.
São muitas e tamanhas as demandas em todos os setores, mas, se há disposição de arregaçar as mangas — como parece — e trabalhar "mais de 24 horas por dia", existe esperança de frear o retrocesso e fazer o Brasil, enfim, voltar a caminhar para a frente. Para o bem, especialmente, de crianças e adolescentes.