Opinião

Artigo: famílias mais endividadas e a perda do poder de compra

São quase 68 milhões de brasileiros com dificuldades para manter as contas em dia. O atraso nos pagamentos gera problemas na economia local, desestabiliza os fluxos de caixas das empresas, mas acima de tudo gera desconforto e privações para as famílias

Correio Braziliense
postado em 29/11/2022 06:00
 (crédito:  Thiago Fagundes/CB/D.A Press)
(crédito: Thiago Fagundes/CB/D.A Press)

DIOGO ANGIOLETI — Especialista em finanças e comportamento do Sistema Ailos

Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 80% das famílias brasileiras estão endividadas, ou seja, não conseguem viver com sua renda mensal. O índice é mais alto nos lares com renda menor que 10 salários mínimos. Essa significativa parte da população está, portanto, recorrendo a produtos de crédito para manter o padrão de vida ou até atender necessidades básicas como alimentação, vestimenta ou transporte.

As dívidas a vencer das famílias se acumulam principalmente no cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa. Estudo da Serasa Experian revela ainda um dado preocupante: 30% das famílias estão inadimplentes. Esse índice é recorde. São quase 68 milhões de brasileiros com dificuldades para manter as contas em dia. O atraso nos pagamentos gera problemas na economia local, desestabiliza os fluxos de caixas das empresas, mas acima de tudo gera desconforto e privações para as famílias.

A maior parte das dívidas são com bancos e cartões (28,8%), seguido de contas básicas como água, gás e luz (22,1%), e financeiras (13,8%), conforme o Serasa. O cenário só não é pior porque houve uma força tarefa em negociações junto aos credores. Trinta por cento dos que buscam o saneamento das dívidas estão na faixa de 30 a 40 anos e 54% são mulheres. Temos uma boa perspectiva em relação a emprego e renda. A taxa de desemprego está melhorando, No terceiro trimestre caiu para 8,7%, a menor desde julho de 2015. O principal motivo da melhora está nas oportunidades de trabalho informal.

Mesmo assim, são ainda 9,5 milhões de desempregados buscando recolocação há mais de 30 dias, e mais de 4 milhões de desalentados (que já desistiram de procurar empregos) segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com esse cenário desafiador, precisamos ficar atentos a como lidamos com nossa vida financeira. Desemprego elevado, alta de juros, preocupações com a decisão da direção política do país, guerra internacional e problemas na Europa, que podem levar à recessão global são fatores que afetam e dificultam uma retomada mais rápida da nossa economia.

Todos esses índices e números são mais dramáticos na população de baixa renda. A realidade dessa faixa da sociedade é bem mais cruel do que revela a estatística. Com o aumento da inflação e, consequentemente, do custo de vida, as famílias vivem com mais dificuldade pois já estão com o orçamento muito apertado e percebem que perderam poder de compra.

É importante que as famílias mapeiem suas dívidas e tenham plena consciência da realidade. Busquem as instituições credoras para negociações ou renegociações que diminuam parcelas e baixem o endividamento mensal excessivo. Esse é um momento de manter o controle e buscar a otimização dos gastos, inclusive avaliando alternativas de consumo mais baratas e lazer que não dependa só do dinheiro. Evitar supérfluos e compras por impulso, afinal a criação de bons hábitos financeiros depende de insistência e disciplina, mas acima de tudo o que nos mantém engajados é a definição de metas e objetivos familiares.

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