Copa do Mundo

Artigo: Precisamos, sim, de Neymar

Marcelo Agner
postado em 28/11/2022 06:01
 (crédito: Kleber Santos/CB ARTE/ DA PRESS)
(crédito: Kleber Santos/CB ARTE/ DA PRESS)

Quem se lembra do personagem Nezinho do Jegue, de O bem-amado, novela e série escritas por Dias Gomes que até hoje faz sucesso e repercute? Nezinho era apoiador de Odorico Paraguaçu e vivia bradando os feitos do político (corrupto) pelas ruas da cidade. Mas, quando bebia, se transformava, e passava a xingar Odorico, destilando seu ódio mais visceral ao prefeito. Muitos de nós, hoje, estamos parecendo um pouco com o Nezinho ao exacerbar as críticas a Neymar, nosso maior craque.

Contundido no primeiro jogo da Seleção na Copa do Catar, o atacante viu Richarlison brilhar no segundo tempo do jogo contra a Sérvia. Bastaram alguns minutos pós-vitória para Neymar deixar seu posto de grande jogador para virar um atleta totalmente dispensável para o time. Alto lá! Neymar até pode ter dado motivos para diversas críticas durante a carreira. Jogou outras duas Copas e não teve o rendimento que se esperava — e uma delas, a de 2014, no Brasil, saiu contundido gravemente — e passou a ser contestado por parte dos torcedores. Mas o jogador ainda é um dos grandes do futebol mundial.

Precisamos colocar esse trem nos trilhos, sob pena de uma injustiça monumental. Há dois Mundiais, Neymar era o ídolo de uma geração. Crianças, como o meu filho menor — hoje com 15 anos — viam nele um herói do futebol. Sempre foi elogiado e capacitado para ser um dos melhores do mundo em todos os tempos. Neymar chegou ao Catar para brilhar e comandar a Seleção. E, sim, é em Neymar que devemos jogar nossas maiores esperanças da conquista do hexa. Ele tem experiência e capacidade para liderar o time brasileiro.

De quinta-feira para cá, no entanto, há uma certa comemoração pela contusão que Neymar sofreu contra a Sérvia. Passaram a questioná-lo, inclusive, como craque do time. Torcem para que fique longe da Seleção. Para os que decidiram trilhar por esse nebuloso e burro caminho, um lembrete: o primeiro gol de Richarlison saiu após jogada de craque de Neymar, completada por Vini Jr. e concluída pelo novo xodó da torcida.

Entendo que o posicionamento político de Neymar irritou grande parte dos brasileiros. Muitos passaram a não gostar dele. E, como "Nezinho do Jegue", o amor se transformou em ódio. Mas não há como ser cego neste momento. Achar que sem Neymar o Brasil será melhor, é um erro grotesco. Sensato e articulado, o meia Casimiro saiu em defesa do atacante do PSG na primeira entrevista após o jogo contra a Sérvia, "mandou a real" como gosta de dizer a nova geração: "É o grande jogador, o craque do time, quem faz diferença".

Ponto. Torcer por Richarlison, fazer dele um novo ídolo, é muito saudável. Me parece um jovem antenado e é a juventude precisa de bons exemplos. Mas destruir Neymar, que há alguns anos era um ídolo, está longe de ser uma ideia inteligente. Um novo amor pode surgir, mas o antigo não precisa ir embora sob os olhares do ódio! Toda força à recuperação de Neymar!

 


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