Entre as promessas essenciais do governo eleito está o revogaço para tirar armas de circulação. O compromisso foi reiterado na equipe de transição, na semana passada. É medida imprescindível, para ser tomada logo nos primeiros dias da nova gestão, porque esses últimos quatro anos foram de farra armamentista no país.
Sob pretexto de permitir a autodefesa do cidadão, o atual governo editou mais de 40 atos para flexibilizar o acesso da população a armamento. Hoje, uma pessoa pode comprar até seis pistolas ou revólveres e 200 munições, por ano, para cada um deles. O liberou geral é maior para colecionador, atirador desportivo e caçador, os chamados CACs. Atiradores esportivos estão autorizados a registrar até 60 armas, incluindo 30 de calibre restrito, como fuzis; caçadores, até 30, podendo 15 ser de maior potência; e colecionadores as adquirem sem limites. Todos têm aval para comprar até cinco mil munições, por ano, para cada arma — e até mil para as de calibre restrito.
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O resultado dessa sanha foi uma proliferação descontrolada de armas nas mãos de civis. Conforme levantamento do Instituto Sou da Paz, somados os registros da Polícia Federal e do Exército, o número saltou de 695 mil para 1,9 milhão. Os CACs, que tinham 350 mil armas em 2018, superaram a marca de 1 milhão em julho passado. CACs, por sinal, que deveriam ter preparo para lidar com os equipamentos, mas o que não faltam são ocorrências de acidentes relacionados a esse grupo — alguns deles fatais —, por imperícia ou descuido.
No último domingo, por exemplo, uma mulher de 36 anos, de Araras (SP), disparou contra a própria cabeça ao tentar fazer selfie segurando uma arma. O revólver pertence a um CAC, que o adquiriu recentemente e não tem prática para manuseá-lo. Ele retirou o carregador, mas ficou uma bala na câmara. A vítima morreu no hospital na última segunda-feira. Já o dono da pistola chegou a ser preso, mas pagou fiança e responderá ao processo em liberdade. Houve outros tantos casos pelo país, inclusive envolvendo crianças e adolescentes.
É a essa barbárie que o novo governo tem de colocar um freio. Quem faz a segurança da população são os profissionais treinados para essa função. Armamento na mão de civis é caminho para acidentes e toda sorte de violência. Como o governo atual cumpriu a sombria promessa de franquear armas aos cidadãos, espera-se que a nova gestão mantenha o compromisso assumido durante a campanha eleitoral e desarme o Brasil.
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