"Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela." A frase é de Angela Davis, um dos nomes mais importantes do mundo quando se fala em ativismo antirracista e feminismo interseccional. Lembrei-me da declaração dela, entre tantas outras importantes que reverberam de suas entrevistas e produção literária, ao ler a reportagem de capa da Revista do Correio de hoje.
Data importantíssima para a luta antirrascista, no Dia da Consciência Negra, neste 20 de novembro, dedicamos espaço para dar voz e visibilidade ao grupo que mais sente o peso de viver numa sociedade que se estrutura no racismo e no patriarcado: as mulheres negras, em especial as trabalhadoras domésticas. As mulheres representam 92% das pessoas ocupadas no trabalho doméstico no Brasil — 65% delas são negras.
Conversamos com mulheres que exercem ou exerceram essa atividade, que ainda é desvalorizada, mal remunerada e vista com imenso preconceito. Casos como o de Janaína Costa, mestre em história e babá, e da psicóloga Maria José Basílio de Oliveira, que atuou grande parte da vida como empregada doméstica, faxineira e babá. Depoimentos significativos que nos ensinam muito e abrem as janelas para que possamos de uma vez por todas sair da ignorância.
Não é justo dizer que a trajetória dessas mulheres é apenas inspiradora ou edificante. O correto é dizer que elas estão levando junto com elas uma legião de mulheres. Mais correto ainda é ter consciência de que elas sustentam muito além de suas próprias famílias ou de seus sonhos individuais.
Como diz a professora e doutora Lucélia Luiz Pereira, do Departamento de Serviço Social da UnB, "é importante dar visibilidade ao protagonismo das mulheres negras nas transformações sociais e políticas que marcam a sociedade, porque elas são sujeitos políticos fundamentais na construção de políticas públicas de combate às desigualdades e de acesso a direitos sociais".
Nós precisamos ter olhos para ver, ler, visitar a história contada do jeito certo. Há farta bibliografia disponível. Grandes intelectuais negras deixaram escritos e testemunhos. Outras estão resgatando a trajetória de heroínas negras. Muitas estão analisando, interpretando fatos atuais e nos entregando de bandeja a versão correta do nosso tempo, que ainda é cruel, machista e racista, em especial com as mulheres negras.
No dia de hoje, faça uma reflexão, olhe ao redor, vasculhe na sua memória e verá o quanto é importante reconhecer o racismo estrutural e reparar séculos de injustiça e desigualdade. Todos nós podemos fazer mais para mudar essa realidade. Termino também com Angela Davis, porque é preciso repetir: "Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista".
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