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Artigo: Quando o capital não investe, o trabalho morre

Ruy Martins Altenfelder Silva
postado em 16/11/2022 06:00
 (crédito: kleber sales)
(crédito: kleber sales)

RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA - Advogado, presidente da Academia Paulista de Letras Jurídicas ( APLJ)

Olavo Bilac foi um incansável jornalista. Escreveu durante anos nos mais importantes periódicos paulistas e cariocas. Foi um cronista de primeira grandeza. Sua linguagem se transforma aos poucos e envereda cada vez mais pela objetividade e conexão. A Companhia das Letras reuniu algumas de suas principais crônicas no livro Vossa Insolência, que acabo de reler. Sua linguagem se caracteriza principalmente pela concisão.

Em uma de suas crônicas — Metrópole de desocupados, Bilac registra o grave problema social da falta de mão de obra, do desemprego, que persiste em dimensão geométrica.

Quem não trabalha por não achar trabalho não merece crítica. Bilac compara com as próprias abelhas que são a margem viva do trabalho mais infatigável, envelheceriam e morreriam depressa se, em todo o perímetro da porção de terra explorada pelo seu voo, não achassem onde colher a matéria-prima para sua indústria.

Sua constatação se aplica à atual questão social brasileira. Milhares de irmãos sem ocupação de trabalho. A crise afetou o setor industrial, principalmente, acarretando cerca de 13 milhões de brasileiros sem ocupação. E, quando o capital não investe, o trabalho morre. É uma das principais políticas que o governo Lula/Alckmin, que acaba de ser eleito, tem que avaliar, criar política pública e resolver.

Quando os pobres têm alegria, tudo vai bem. A tristeza de gente pobre é terrível e dolorosa, porque é a tristeza dos que não pedem muito, dos que pedem pouco. Bilac adverte — quem tem pena dos ambiciosos que só se satisfariam se pudessem meter o sol na gaveta e as 12 constelações do zodíaco dentro do bolso do colete? Para os insaciáveis, a tristeza é um castigo merecido e necessário, mas, para os modestos, ela é uma injustiça que dói e desespera.

Administrar não é somente gerir, é também assistir, acudir e prover. Quem administra não pode dar riqueza a todos. Mas pode e deve dar trabalho aos homens de boa vontade. Dar trabalho não é ministrar socorro, é ministrar justiça (ob. cit.pg 237). O notável cronista conclui: Permita o céu que o Lázaro agora ressuscitado não tome a meter-se na cova por sua própria vontade — e que se perpetue o trabalho que é a alegria do pobre!

Josué de Castro foi um médico nutrólogo e contra o pensamento da época (século 20) que atribuía a miséria às condições naturais, climáticas e étnicas. Foi o primeiro a defender a instituição do salário mínimo como garantia de segurança alimentar das famílias. Destacou-se por combater o que considerava a causa principal do atraso econômico e social do Brasil: a fome.

Nascido em Pernambuco e filho de retirantes, Josué, orgulhoso de sua origem nordestina, revolucionou a compreensão dos aspectos sociais do subdesenvolvimento e da fome. Seu livro Geografia da fome — 1946 — se tornou uma referência para análise dos aspectos sociais do subdesenvolvimento. Ele atribuía a fome ao fruto da ação humana e da condição econômica do Brasil. Formulou uma política de merenda escolar com o objetivo de reduzir a subnutrição infantil, além de ser defensor da reforma agrária convencido de que a agricultura familiar fixaria o homem ao campo e garantiria a produção de alimentos necessários para a superação da miséria.

O competente cineasta e escritor Rodolfo Nanni dedicou um dos seus premiados trabalhos ao tema no filme O drama das secas. Baseado nos encontros que manteve com Josué de Castro, escreveu — Quase um século e O retorno.

No início do governo Lula/Alckmin, vale rever as obras desses renomados escritores e firmar uma política pública que combata um dos maiores males brasileiros. Os números são alarmantes. Por essa razão, fundamental a elaboração de políticas públicas que proponham soluções para enfrentar, amenizar e se possível resolver essa grave questão: a fome.

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