EDITORIAL

Visão do Correio: Retrato caótico das estradas

Correio Braziliense
postado em 14/11/2022 06:00

Às vésperas de mais um feriado nacional e diante da aproximação do fim de ano e das viagens de férias, o retrato das rodovias do país revelado pela 25ª edição da Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostra que os brasileiros precisam ligar o alerta frente a um cenário preocupante, sob diversos pontos de vista. O mais prático deles reforça o dito segundo o qual nada é tão ruim que não possa piorar: de acordo com os resultados, dos 110.333 quilômetros de pistas avaliados, 66% tiveram classificação entre regular (40,7%), ruim (18,8%) ou péssimo (6,5%), situação ainda mais grave que a registrada pela mesma entidade em 2021, quando o somatório desses índices era de 61,8%.

Para chegar aos resultados naquela que já é considerada a maior série histórica de informações rodoviárias do país, levantadas pela CNT desde 1995, 22 equipes percorreram durante 30 dias 100% das rodovias federais e os principais trechos das estaduais em todas as regiões brasileiras. O levantamento considera os critérios de condições do pavimento, sinalização e geometria das vias, além da existência de pontos críticos, todos classificados entre os extremos ótimo e péssimo.

No aspecto normalmente sentido de forma mais imediata pelos motoristas, os responsáveis pela pesquisa constataram em toda a malha viária piora significativa nas condições de pavimento em relação a 2021, o que evidencia manutenção ineficaz. Quanto à sinalização, outro fator determinante para a segurança, 66.985 quilômetros foram avaliados como deficientes, com classificação entre regular, ruim e péssimo, o equivalente a nada menos que 60,7% do total percorrido.

O trabalho dos pesquisadores da CNT deixa claro também o que aqueles que percorrem estradas brasileiras sabem de cor. Em um dos países com maior carga tributária do planeta, sem serviços correspondentes, é preciso gastar ainda mais com pedágios para ter o direito a trafegar em estradas decentes — ainda que algumas delas estejam bem distantes das condições ideais.

Segundo a pesquisa, nas rodovias sob gestão do poder público, o estado geral teve queda nas classificações ótimo e bom, dos já modestos 28,2% de 2021 para 24,7% em 2022, o que indica 75,3% das pistas com algum tipo de problema. Já nos trechos sob administração privada — portanto com cobrança de pedágio — a proporção se inverte: 69% têm estado geral classificado como ótimo ou bom, 25,8% como regular e 5,2% como ruim ou péssimo.

Nesse aspecto, além do custo extra, há outras duas más notícias para os motoristas brasileiros. Em todo o país, as rodovias geridas pelo poder público — portanto aquelas em piores condições — são a esmagadora maioria: 87.095 quilômetros, quase quatro vezes mais que os 23.238 quilômetros sob gestão privada. De outro lado, as rodovias pedagiadas, embora em melhor situação devido aos maiores investimentos das concessionárias, também pioraram em relação a 2021, quando o estado geral considerado ótimo ou bom era de 74,2%, índice que caiu 5,2 pontos percentuais neste ano.

Outro dado que chama a atenção é a disparidade entre os custos estimados com acidentes e os valores aplicados em melhoria na pavimentação, na sinalização e no desenho das rodovias do país — investimento que poderia reduzir o número de ocorrências. De acordo com a CNT, estima-se que apenas até agosto desastres rodoviários tenham custado ao país a bagatela de R$ 8,29 bilhões, valor mais de duas vezes superior aos R$ 3,9 bilhões destinados à melhoria e manutenção das estradas neste ano.

Além de disparar o alerta para motoristas que enfrentam as rodovias em um território continental e que encontram neste ano condições ainda mais degradadas do que nos anteriores, o relatório da CNT deveria acionar o alarme também entre as autoridades, especialmente as do governo prestes a assumir. Em um país ainda envolto em um debate político-eleitoral que precisa ser superado, há necessidades práticas e urgentíssimas a serem enfrentadas, e elas têm impacto tanto sobre a população em geral quanto sobre os transportes de cargas que afetam toda a cadeia produtiva, em uma nação que se move essencialmente sobre rodas.

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