Em meio às manifestações com tom golpista que ainda continuam em algumas capitais, a transição de governo está em andamento e importantes discussões começam a tomar conta do noticiário. A principal delas até agora, sem dúvida alguma, é a declaração do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre gasto ou investimento. "Muita coisa que falam que é gasto, falo que é investimento", disse ele, em referência a um aporte maior de dinheiro público em saúde, educação, programas sociais, entre outros.
E como estamos em um país polarizado, o assunto se tornou um dos mais debatidos nas redes sociais. Enquanto os simpatizantes de Lula saíram em defesa do discurso do presidente eleito, os adversários se apoiaram na reação do mercado, com a queda da bolsa e disparada do dólar e juros futuros. De uma forma geral, os investidores reagiram mal porque o petista fez críticas à "estabilidade fiscal" e deixou claro que sua equipe vai incentivar gastos sociais, marcando uma forte diferença em relação aos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, justamente os sucessores de Dilma Rousseff (PT), que tentou aplicar uma nova matriz econômica sem sucesso.
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Se pudesse simplificar o pensamento, faria a seguinte pergunta: deu retorno? Se a resposta for sim, é investimento. Se não, é gasto. Aplicar verba pública em ciência e educação, para mim, é preparar uma nação para dias melhores, desde que façam parte de uma política pública séria e estruturada, com análise constante dos indicadores e se está dando retorno ou não à sociedade. Boas ideias existem, mas nem sempre a execução é a mais correta possível.
Em uma das discussões sobre o assunto, em um grupo de WhatsApp, li um argumento interessante. O interlocutor — que trabalha em um dos mais importantes órgãos da administração pública federal, o Tribunal de Contas da União (TCU) — concordava que gastar com ciência e educação era "investimento", mas era contra o populismo barato. "A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) financiar um monte de bolsa pro aluno estudar subsidiado pelo Estado e, no fim das contas, arrumar emprego na Alemanha sem trazer nada pro Brasil ou devolver o dinheiro com juros é dano ao erário", defendeu.
É animador, no entanto, vermos tal discussão voltar ao seio da sociedade. Tivemos uma campanha eleitoral marcada pelo pouco debate sobre o futuro que queremos de país. A controvérsia ficou em torno da rejeição a candidato A ou B ou da biografia dos dois principais postulantes ao Palácio do Planalto. Discutir quanto e como gastar em saúde, ciência ou educação é muito melhor para a sociedade do que debater questões sobre a compra de viagra ou de leite condensado.
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