EDITORIAL

Visão do Correio: Alerta ambiental é chance para o Brasil

Correio Braziliense
postado em 09/11/2022 06:00

O tom firme e grave com o qual o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou o mundo na COP27 sobre a gravidade da situação climática global e a urgência de uma ação conjunta para evitar o caos mostra que estamos em desvantagem na batalha desde a primeira Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, em 1995, na Alemanha. E a sensação de derrota foi admitida pelo próprio Guterres, ao lembrar que esta é a luta de sobrevivência humana e que estamos perdendo. Relatórios da ONU sobre o clima mostram que tivemos as mais altas temperaturas nos últimos anos, com derretimento de geleiras e elevação do nível do mar num patamar muito maior do que o previsto anteriormente. Apenas os dois últimos anos representaram 10% de toda a elevação do mar acumulada em cerca de 30 anos.

No caso do Brasil, o desmatamento da Amazônia agrava o quadro das mudanças climáticas, deixando o país vulnerável às alterações do clima, com chuvas mais severas e secas mais prolongadas, além da elevação das temperaturas. O alerta de desmatamento este ano já chega a uma área de 9.277 quilômetros quadrados, atingindo a pior marca da série histórica iniciada em 2015. A umidade se forma na área de floresta que os ventos carregam para o Centro-Oeste do país, levando chuva para regiões de produção agropecuária. Sem essa umidade, o clima se tornará mais seco e quente nos estados que puxam a produção agrícola nacional.

Especialistas alertam que a floresta amazônica está no limite da sua capacidade de se recuperar de danos sofridos. Um grupo de pesquisadores de todo o mundo teria detectado sinais dessa incapacidade de regeneração em mais de 75% da área de selva. Grandes grupos do agronegócio já perceberam o impacto negativo do avanço das áreas agrícolas sobre regiões de mata e estão levando à COP27 a proposta de eliminar o desmatamento de suas cadeias de fornecimento de soja, carne bovina e óleo de palma até 2025. É o prazo que estimam para se ajustar à proibição, já aprovada pelo Parlamento Europeu, de compra de produtos de países com desmatamento. Ao mesmo tempo, a Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados pode votar esta semana projetos que flexibilizam o manejo de madeira e favorecem o desmatamento, o que é desnecessário no momento de troca de governo.

Com a COP27 sendo colocada pela ONU como o momento de o mundo decidir de forma conjunta ações para reverter o avanço do aquecimento global e suas consequências, sob pena de chegarmos a um ponto de irreversibilidade, o mundo inteiro olha para o Brasil e busca saber qual a postura efetiva do país no combate às mudanças climáticas. A expectativa se torna maior com a presença do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, no encontro dos países no Egito. Durante a campanha eleitoral, o petista deu pistas da política ambiental que pretende implementar, considerando que hoje uma árvore em pé dá mais retorno econômico do que uma cortada e lembrando do volume de terras agrícolas degradadas e que podem ser recuperadas.

O mundo espera do Brasil o compromisso de zerar o desmatamento ilegal. E Lula deve buscar do mundo os recursos para permitir que o país alcance essas metas. Noruega e Alemanha já anunciaram a disponibilidade de reativar as linhas de financiamento do Fundo Amazônia, destinado a receber investimentos não reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento e de promoção da conservação e uso sustentável da Amazônia Legal, que engloba 59% do território nacional e se espalha por oito estados. O Brasil pode ganhar papel de protagonismo nas ações de conservação ambiental no mundo, mas é preciso que se coloque em prática efetivamente o conceito de sustentabilidade, para trazer o setor privado para ações conjuntas que preservem nosso meio ambiente sem com isso reduzir o dinamismo da economia.

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