RICARDO LOURENÇO - Médico, é presidente da Organon
Novembro (Roxo) é o mês internacional de prevenção e sensibilização sobre a prematuridade. O objetivo principal da data é alertar a sociedade sobre o crescente número de partos prematuros, que são os que acontecem antes de a mulher completar 37 semanas de gestação. De acordo com dados da organização não governamental (ONG) Prematuridade.com, no mundo todo, a prematuridade é a principal causa de mortalidade infantil antes dos 5 anos de idade. O Brasil figura em 10º lugar no ranking mundial, em números absolutos, de partos prematuros.
Diante desse cenário, é iminente falar sobre a importância do pré-natal e os prejuízos que a falta desse acompanhamento médico ao longo da gravidez pode causar tanto para a saúde da gestante quanto para a do bebê. Quando os exames são feitos adequadamente, podem ser evitadas doenças transmitidas de mãe para o filho, como sífilis, HIV, hepatites B e C. Além disso, o pré-natal pode detectar outras doenças que, se não tratadas, podem ocasionar o parto prematuro, como a anemia, a diabetes gestacional, a hipertensão e a infecção urinária.
Quando falamos de mães adolescentes, os riscos para a saúde podem ser ainda mais elevados. Segundo a Organização Mundial da Saúde, as grávidas de 10 a 19 anos enfrentam maiores riscos de eclampsia, endometrite puerperal e infecções sistêmicas do que mulheres de 20 a 24 anos. A entidade ainda revela que as complicações na gravidez e no parto são a principal causa de morte entre meninas de 15 a 19 anos em todo o mundo.
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Mas o que leva algumas mulheres a não procurar a assistência pré-natal? Os motivos não são conclusivos, mas eles passam pela falta de acesso a serviços de saúde, ausência de informação sobre sexualidade e, ainda, pela gravidez não intencional. Uma gestação não planejada pode resultar em consequências graves, tais como depressão pós-parto e desnutrição do bebê. Na adolescência, outro fator que chama a atenção é a vergonha da gravidez, fazendo com que escondam a gestação por muito tempo, prejudicando o pré-natal. O impacto pode ser bastante negativo, pois negligenciar o pré-natal se reflete diretamente no índice de mortalidade infantil.
O relatório "Vendo o Invisível", que o Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa) lançou recentemente sobre a crise invisível de gravidez não intencional, traz uma análise com base nos dados de Pesquisas de Demografia e Saúde (DHS) em que diversos estudos fazem essa correlação da gravidez não planejada e o pré-natal. De acordo com o documento, a tendência entre as mulheres com gravidez não planejada é começar a receber cuidados pré-natais mais tarde e ter menos consultas pré-natais do que as mulheres com gravidez planejada.
Estudos em países ocidentais mostram que as mulheres solteiras que relataram que sua gravidez não foi intencional eram significativamente menos propensas a fazer uma consulta pré-natal durante as primeiras oito semanas de gravidez e eram duas vezes mais inclinadas a procurar atendimento pré-natal somente após o primeiro trimestre. O mais indicado seria o pré-natal ocorrer quando a mulher ainda está planejando engravidar. Dessa forma, o ginecologista já poderia verificar se ela tem alguma doença prévia, prepará-la para as transformações que vai sofrer durante os nove meses, explicar sobre a rotina das consultas e ainda sobre as possibilidades de parto, municiando-a de todas as informações necessárias para uma gestação tranquila.
Mas, no Brasil, o conceito de planejamento reprodutivo ainda é pouco difundido e adotado, o que é lamentável. Ele oferece uma poderosa ferramenta para que mulheres de todas as classes sociais tenham autonomia sobre o próprio corpo e decidam se querem engravidar e quando. Porém, a prática do planejamento reprodutivo não depende só das mulheres. Trata-se da construção de uma cultura a partir da disseminação de informações, da oferta de orientações médicas, da ampliação do acesso a mais métodos contraceptivos e do apoio da família, do parceiro ou parceira e dos amigos. Certamente, seria um passo importante para melhorar as estatísticas de prematuridade no Brasil.
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