ELEIÇÕES

Análise: é preciso saber perder a eleição; e a culpa não é do eleitor do adversário

Se o vencedor tivesse sido outro, haveria manifestações com bandeiras vermelhas nas ruas? Creio que não

Roberto Fonseca
postado em 04/11/2022 06:00
 (crédito: Reprodução/RedesSociais)
(crédito: Reprodução/RedesSociais)

Com caráter golpista, a onda de manifestações promovidas por eleitores do presidente Jair Bolsonaro em diversas cidades nos leva a diversas reflexões. A primeira delas é em relação ao tom violento que ocorreu em algumas localidades. Desde a manhã do feriado, imagens de atropelamentos e depredações de veículos com bandeiras ou adesivos do PT viralizaram nas redes sociais.

Não, gente, não dá para querer resolver com violência a frustração com o resultado eleitoral. Se o candidato preferido não ganhou, a culpa não é do eleitor do adversário. Destruir o carro alheio por conta de divergência política é praticamente o estado de barbárie e não combina de forma alguma com a democracia. Ao mesmo tempo que ir às ruas pedir "intervenção federal" logo após a divulgação do resultado das urnas, mostra que uma parcela significativa da população não sabe perder e quer fazer a sua vontade de qualquer forma. Sem contar que é crime ir contra a ordem democrática vigente. Se o vencedor tivesse sido outro, haveria manifestações com bandeiras vermelhas nas ruas? Creio que não.

Outro ponto que merece especial atenção é sobre a abundância de desinformação que permeia as manifestações dos últimos dias. Uma grande parte dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro só acredita em informações fora do sistema tradicional de comunicação. Não consomem notícias de jornal ou televisão. Dão audiência a canais nichados no YouTube e confiam muito no que recebem em grupos do WhatsApp ou do Telegram. Ou seja, um terreno fértil para propagação das fake news, seja por meio de textos apócrifos ou vídeos editados e tirados fora de contexto.

Não à toa, vimos tantas imagens de comemoração de notícias falsas. Entre os vídeos que viralizaram nos últimos dias, estão a festa dos manifestantes pela "prisão" do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes; a "confirmação de fraude" nas urnas; e até mesmo uma "tomada de poder" pelos militares aquartelados.

O momento agora é de olharmos para a frente. De acompanhar a transição e a montagem do novo governo. O mundo bate palma para o nosso sistema eleitoral —ao saudar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente dos EUA, Joe Biden, elogiou a força das instituições democráticas brasileiras após eleições "livres, justas e confiáveis". A comissão do Tribunal de Contas da União (TCU) também não encontrou nenhum indício de fraude. Pensar de forma contrária é dar força a teorias da conspiração, que não cabem neste momento de pacificação que precisamos a todo custo. Nada de grupos vermelho ou verde-amarelo. Somos todos uma única nação.

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