EDITORIAL

Visão do Correio: Manifestação, sim.Vandalismo, não

Correio Braziliense
postado em 03/11/2022 06:00

A eleição para a Presidência da República terminou no segundo turno, em 30 de outubro. O candidato da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva, obteve 60,3 milhões de votos, contra 58,2 milhões do postulante à reeleição, o presidente Jair Messias Bolsonaro, que permanece no cargo e é o responsável, até 31 de dezembro próximo, por todas as decisões e iniciativas do poder público. Ontem, finalmente, o presidente Bolsonaro, divulgou um vídeo em que apelou aos seus eleitores que desobstruam as rodovias do país.

No pronunciamento, Bolsonaro alertou seus seguidores que a Constituição Federal garante o direito de ir e vir dos cidadãos. Lembrou que sempre "jogou nas quatro linhas" da Carta Magna. Ressaltou ainda os prejuízos que o movimento causa à economia brasileira. A decepção e a tristeza — sentimentos naturais ante a derrota — não liberaram o presidente do dever de manter a ordem e garantir os direitos constitucionais do brasileiros, entre eles o de locomoção dos cidadãos, como reafirmou no seu discurso 45 horas depois do anúncio do resultado das eleições, o que inclui a acesso dos cidadãos aos serviços essenciais, como os da saúde.

Diante da violência dos manifestantes, com prejuízos para a sociedade e a inércia do poder público, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) tomou a iniciativa de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para obrigar o governo federal a agir e liberar as rodovias. Por unanimidade, a Alta Corte determinou aos órgãos de Estado — Polícia Rodoviária Federal e outras instituições responsáveis pela ordem pública — que atuassem para desobstruir as vias de trânsito. A PRF identificou 631 manifestações. Segundo o balanço parcial, foram 1.992 autuações, em 25 estados e no Distrito Federal. Até a tarde de ontem, mais de 140 estradas interestaduais estavam obstruídas pelos baderneiros, cuja ação foi condenada pelas entidades representativas dos caminhoneiros.

As divergências políticas e ideológicas não podem se sobrepor aos interesses do país ou ser motivo para atitudes fratricidas entre grupos da sociedade. Acabamos de emergir de uma das maiores crises sanitárias do planeta, causada pela covid-19, que deixou quase 700 mil mortos. Só agora, a economia começa a dar sinais de recuperação, com a retomada dos empregos, queda da inflação, entre outros indicadores que sinalizam possibilidade de o Brasil voltar a crescer. Impõe-se, portanto, a necessidade de recuperar o respeito em meio à diversidade de pensamentos e opções, até mesmo para usufruir do direito à liberdade de expressão e de manifestação.

A frustração dos apoiadores de Bolsonaro com a derrota é compreensível. Vivemos sob regime democrático e de direito — e assim querem que sigamos os milhões de brasileiros que foram às urnas. Encerrado o processo eleitoral, o Brasil precisa de paz e união da sociedade, afim de que seja possível o avanço de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento e crescimento do país, com a eliminação das iniquidades sociais e econômicas.

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