Eleições 2022

Artigo: Armas ensarilhadas e um olhar para o futuro

Correio Braziliense
postado em 02/11/2022 06:00
 (crédito: kleber sales)
(crédito: kleber sales)

Otávio Santana do Rêgo Barros - General de Divisão da reserva do Exército. Foi porta-voz da Presidência da República

Já se passaram 48 horas desde que 120 milhões de eleitores foram às urnas certificar as suas escolhas em pessoas e ideias para a governança de nosso país nos próximos quatro anos. O armagedon que pitonisas exaltadas a soldo ou por genuíno pensar enxergavam nas bolas de cristal embaçadas não se configurou.

O cidadão acordou no domingo consciente da importância do momento e ordeiramente exerceu seu direito e dever para consigo, seus entes queridos e sociedade em geral.

É verdade que grupos desapetrechados de senso de responsabilidade ainda buscam, por meio de provocações e desinformações, gerar fatos consumados que desestabilizem o tecido social enfraquecido.

É verdade que vencidos, ainda sob o impacto das duras pelejas, relutam em acalmar seus corações e se apegam ao fio de esperança esgarçado de uma miragem que eles sabem não há condições de se concretizar.

Está na hora de ensarilhar as armas. Comportar-se com serenidade franciscana e olhar para a frente, cooperando para desobstruir o caminho que o país terá de tomar para conquistar um futuro de esperança, com paz e justiça social.

O movimento institucional promovido com antecedência por lideranças do Judiciário, da política, do empresariado, da imprensa, da academia, do povo em geral antecipou medidas e se mostrou eficaz para enfrentar os desafios.

Essa agenda da legalidade, da legitimidade e da estabilidade, reforçada pela decisão soberana do povo revelada nas urnas, asfixia movimentos divisionistas que se inspiram em outras paragens e visam a conturbar a estabilidade do país.

Outro dia me presentearam com o livro Afrika Korps, Rommel no deserto, uma obra rara de Kenneth Macksey publicada em 1968 pela Editora Renes. Naturalmente discorre sobre as manobras, as vitórias e derrotas de um dos maiores generais do exército alemão no ambiente operacional do norte da África.

Recheado de fotos históricas, uma delas me deixou vivamente impressionado. Ela retrata o lendário General Montgomery, comandante do 8º Exército britânico, cumprimentando cordialmente o comandante do Afrika Korps, o general von Thoma, então capturado.

Aqueles homens, vestidos de honra, souberam reconhecer que, mesmo diante dos desafios quase incontornáveis de uma guerra, era preciso caminhar sobre os trilhos da compreensão, respeito mútuo e aceitação das circunstâncias e dos fatos.

Não estivemos em uma guerra. O pacífico teatro de operações foi o nosso país e os combatentes, todos do mesmo lado, a nossa população.

A batalha deu-se em torno de votos e as armas de cada exército foram a capacidade de convencer seguidores de que seus projetos seriam melhores para o país.

O cessar fogo foi assinado domingo à noite. Há um vencedor e um vencido. Agora, é reunir forças republicanas, de ambos os lados, para realização da limpeza do campo de minas que ficou pelo caminho. Elas ainda são perigosas e traiçoeiras. As históricas lideranças políticas aliadas da Segunda Guerra Mundial - Churchill, De Gaule, Roosevelt, entre os principais -- souberam agir com resiliência, com inteligência, com humildade. Aceitaram os enormes desafios daqueles cinco anos de sacrifício, para, por fim, darem ao mundo a esperança de dias melhores. Que nos sirva de exemplo.

Uma nova era se construiu a partir da união entre nações. Estruturas multilaterais passaram a atuar como algodão entre cristais. Mesmo os antagonismos ideológicos se acomodaram pela estabilidade da instabilidade da guerra fria.

Em nosso espaço geográfico verde e amarelo suplantamos inúmeras adversidades e chegamos à adolescência do século 21 fortalecidos por uma democracia jovem e promissora. Outros obstáculos se erguerão, é da dinâmica natural de um país em desenvolvimento e tão dividido ideologicamente nos últimos anos. Agora mesmo, vejo nas mídias sociais pessoas estimulando que famílias armazenem itens não perecíveis e abasteçam seus carros em face dos bloqueios de estradas por caminhoneiros insatisfeitos com a verdade do voto.

Qual o sentido de manter essa narrativa? A indignação pessoal pela derrota não pode enveredar para atitudes que promovem medo, angústia e incerteza.

Otimista que sou, o Brasil superará as adversidades dessa campanha eleitoral. As opções contrárias ao entendimento não apresentam vantagens para a sociedade brasileira, apenas perdas e desilusões.

Paz e bem!

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