As eleições do próximo domingo talvez sejam as mais importantes da história da democracia brasileira. Também as mais conturbadas e tensas. O ato de terrorismo perpetrado pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson contra agentes da Polícia Federal que cumpriam uma ordem de prisão é dos eventos mais graves da política nacional. Um dos principais aliados de Jair Bolsonaro usou um fuzil para disparar mais de 50 vezes contra os policiais, além de arremessar granadas — armamento de comercialização proibida e uso restrito das forças de segurança. Ainda que o presidente tente se desvencilhar do agora "estorvo", foi o próprio Bolsonaro quem estimulou a política armamentista. "Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado", declarou, em 27 de agosto de 2021.
Saiba Mais
Ao incorporar o Rambo, no último domingo, Jefferson seguiu à risca o conselho de seu aliado e mostrou desprezo pela democracia. Tentou tumultuar o ambiente pré-eleitoral e a incitar os bolsonaristas contra o Supremo Tribunal Federal e o juiz Alexandre de Moraes. Ao resistir à prisão, quase matou agentes da PF e saiu do episódio com indiciamento por quatro tentativas de homicídio que poderão lhe custar mais alguns anos de cadeia. O ato tresloucado do aliado de Bolsonaro também pode ser interpretado quase como chamamento à desordem pública e ao caos. Pouco antes de escrever este artigo, deparei-me com uma notícia sobre a prisão de cinco pessoas em posse de armas, munição e bandeiras nazistas, em Santa Catarina. Roberto Jefferson pode inspirar outros fanáticos e fascistas a atazanarem as eleições.
Três meses atrás entrevistei Steven Levitsky, cientista político da Universidade de Harvard e autor de Como as democracias morrem. Ele avisou que Bolsonaro poderia rejeitar uma possível derrota nas urnas. E advertiu: "A tolerância da violência política por parte dos grandes partidos políticos é prenúncio para o colapso da democracia". Existe o temor de que, caso Lula se torne presidente, Bolsonaro e seus asseclas mais radicais tentem repetir, em prédios públicos de Brasília, a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Steve Bannon, conselheiro político de Donald Trump, também mantém forte influência sob o clã Bolsonaro.
As próximas horas serão um teste crucial para a democracia brasileira, conquistada a tão duras penas, ao custo de golpes de cassetete, pau-de-arara e choques elétricos. Cabe ao verdadeiro cidadão de bem zelar por ela e impedir que o Brasil desça aos porões do autoritarismo e da corrosão institucional. É preciso que todos tenhamos olhos atentos na garantia da paz e da ordem pública e no respeito pela vontade popular. O Brasil é grande demais para se deixar ameaçar por marginais que confundem patriotismo com fanatismo, messianismo e caos.