Respeito é fundamental nas relações sociais. Mas perde, a cada dia, seu valor. Vem sendo diluído pelo comportamento reprovável de personalidades públicas, que se acham no direito de ofender, agredir, incitar o ódio entre os que têm compreensão diferente da sua. Não sei como qualificar o vídeo do ex-deputado Roberto Jefferson, cacique do PTB, em relação à ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal.
O discurso chulo e a baixaria sem limites levam-nos a supor que todos os valores civilizatórios foram lançados no esgoto a céu aberto. Termos inadmissíveis em relação, não só à magistrada da mais alta Corte do país, quanto à qualquer mulher. O mesmo valeria em referência a um homem. Jefferson preenche o perfil de personagens abjetos que gravitam no cenário político.
Condenado pelo menos por sete crimes — calúnia, difamação, injúria, incitação ao crime, apologia de crime (ou criminoso), associação criminosa, denunciação caluniosa, que poderiam lhe render 60 anos de prisão —, Jefferson personaliza, ao lado de vários outros homens públicos, o que há de mais torpe na política nacional. Agora, acrescenta a misoginia à sua vasta folha corrida.
O seu partido político tornou-se uma agremiação estranha. Primeiro, lançou a candidatura de Jefferson ao Palácio do Planalto, um presidiário, que cumpre pena em regime domiciliar, com direito a tornozeleira eletrônica, jamais seria eleito. A pretensão foi barrada pela Justiça Eleitoral. Para substituí-lo, surgiu um ilustre e desconhecido padre, sem nenhuma ligação às diferentes denominações religiosas cristãs. O desempenho pífio no primeiro turno da corrida pelo Palácio do Planalto o tornou uma caricatura bizarra.
No fim de semana, os jornais impressos e virtuais repercutiram o inominável vídeo de Jefferson. Houve quem sugerisse o seu retorno ao presídio. Talvez seja o melhor caminho, pois ele se revela um indivíduo despreparado e pernicioso à convivência em sociedade — obviamente, ele não está sozinho. Reproduz o discurso de muitos machistas que depreciam as mulheres e são contumazes praticantes de violência contra elas, por meio de palavras e por atitudes, como agressões físicas, morais, psicológicas e tantas outras formas de aviltamento da dignidade humana.
O ex-deputado recorre ao vilipêndio de figuras femininas, pois não tem outra forma de se tornar notícia. Assim, insulta mulheres, sobretudo aquelas que alcançaram, por formação e mérito, elevado patamar social e se tornaram relevantes na estrutura dos Poderes da República, ao contrário dele. Movido pelo ódio, despeito, inveja e todos os sentimentos rasteiros, Jefferson liberou os seus mais perniciosos e abomináveis instintos primitivos. Há de se supor que pagará caro por isso. É o que espera o lado bom e civilizado da sociedade brasileira.