OPINIÃO

Visão do Correio: 'O voto é livre e secreto'

O coronelismo sempre foi uma praga no Brasil. Fazendeiros, sobretudo, e empresários de regiões menos desenvolvidas do país usavam o poder econômico para subjugar seus empregados e decidir o futuro político da nação. Exigiam que os subordinados votassem em candidatos que defendessem os interesses de uma elite atrasada, obcecada pelo poder. Esse fenômeno ganhou a alcunha de voto de cabresto. À medida, porém, que o Brasil foi reduzindo o analfabetismo, os pobres se libertando das amarras por meio da educação e a urbanização acompanhando o crescimento econômico puxado pela industrialização, os coronéis sem farda perderam força. Pensava-se, inclusive, que tinham sido relegados ao ostracismo e aos pés dos registros históricos.

A eleição deste ano, porém, evidenciou que os coronéis sem fardas continuam mais ativos do que nunca. Só mudaram de feição. Não estão mais nas regiões mais carentes, nem andam a cavalo com o chicote nas mãos. Eles podem ser encontrados em cada esquina do país, certos de que seus desejos e suas convicções políticas devem ser seguidos por quem lhes deve favores, no caso, os empregados. São tão desavergonhados, que gravam vídeos obrigando os subordinados a votarem em determinados candidatos sob o risco de serem demitidos e os difundem em suas redes sociais como troféus. Os mais abusados obrigam que funcionárias escondam o telefone celular nos seios para filmarem, nas cabines de votação, qual número cravaram nas urnas eletrônicas — um crime eleitoral.

A situação é tão dramática que o Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu centenas de investigações com base em denúncias de assédio eleitoral, recebidas, especialmente, depois do primeiro turno das eleições. O total de registros já é cinco vezes maior que o de 2018. Para procuradores, esse quadro é incompatível com o livre direito dos cidadãos de escolherem seus representantes em governos, no Congresso e nas assembleias legislativas e municipais. Está na Constituição. Mais: o voto é secreto e jamais deve estar vinculado a questões trabalhistas. Portanto, aqueles que estiverem sendo vítimas desse tipo de crime devem denunciar, sem medo, os infratores. O silêncio, nesses casos, favorece os fora da lei.

Eleições são o único caminho para que a sociedade defina que rumos esperam para o país. E a vontade da maioria deve ser respeitada sempre. Não é o poder econômico que deve prevalecer. Perante as urnas, todos os votos têm o mesmo peso, independentemente do saldo nas contas bancárias. Numa democracia, pode-se, sim, tentar convencer alguém a mudar de lado na política, desde que por meio do diálogo, com argumentos sólidos. Não com ameaças. O confronto de ideias, por sinal, é fator preponderante para que erros possam ser corrigidos em eleições seguintes. Está aí a beleza da liberdade de escolha. Onde a tirania prevalece e a maioria não tem voz, a sociedade se esfacela.

O Brasil já deu mostras em diversas oportunidades de que não aceita retrocessos. Sucumbiu algumas vezes aos que odeiam a democracia, mas soube se reerguer. Não será diferente agora, quando o coronelismo sem farda tenta se impor na crença de que tem o monopólio do pensamento. O país é muito maior do que esse grupo. A apenas uma semana de os brasileiros retornarem às urnas, que a liberdade de escolha seja uma arma importante para o futuro da nação. E que os votos tragam de volta a pacificação, para que os eleitos possam enfrentar os reais problemas que afligem a população: a inflação, a miséria, o desemprego, a violência desenfreada, a educação deficiente e o sistema de saúde capenga. O Brasil merece.

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