RAPHAEL CALLOU - Diretor da Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil
A educação infantil, desde sua incorporação ao sistema educacional, estabelecido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional — Lei nº 9.394/1996, luta para firmar uma identidade própria. Nesse processo, é importante reconhecer que ainda estamos construindo o que significa ser professor da educação infantil, assim como contribuir para o desenvolvimento das capacidades profissionais do trabalho docente nessa etapa tão importante para o desenvolvimento humano. Para isso, é necessária uma mudança de perspectiva sobre o trabalho desenvolvido por esses profissionais, inclusive com maior reconhecimento social.
Segundo o Censo da Educação Básica de 2021, temos 595 mil docentes atuando nessa etapa, sendo 3,7% do sexo masculino. São 3,4 milhões de crianças matriculadas em creches (até 3 anos) e 4,9 milhões na pré-escola (4 a 5 anos), num total de 112.927 estabelecimentos.
O trabalho realizado pelos docentes visa garantir que a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças aconteçam nos espaços institucionais educativos, onde brincar, interagir, aprender e se expressar são atividades desenvolvidas pelas crianças e conduzidas pela mediação do professor para que ganhem intencionalidade pedagógica.
A representatividade que o professor exerce na vida dos pequenos e o impacto das experiências que lhes são proporcionadas são tão importantes que permeiam o imaginário deles. Quantas vezes na infância crianças brincaram de ser professor ou professora? Quantas vezes reproduziram ou presenciaram cenários cotidianos educativos de forma lúdica?
Esse faz de conta de reprodução de papéis sociais tão comum na primeira infância nos faz refletir sobre como estão esses professores — seu reconhecimento, sua valorização, sua profissionalização. Dessa forma, põe-se em questão uma tarefa que é coletiva: a luta pelo efetivo reconhecimento e valorização dos docentes, essenciais na construção da sociedade.
Ciente disso, a Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI), em cooperação com diversas instituições brasileiras, desenvolve projetos que auxiliam na construção de políticas públicas, no desenvolvimento de ferramentas de gestão e tomada de decisão que apoiem os municípios a alcançar os objetivos do Plano Nacional de Educação.
A capacitação de professores é um eixo estruturante de diversos projeto da OEI no Brasil. No projeto Primeiros Anos, por exemplo, serão ofertados oito cursos, abordando gestão, infraestrutura, práticas pedagógicas e desenvolvimento infantil; no projeto Escolas Interculturais e Bilíngues Cruzando Fronteiras, que em novembro iniciará uma formação em interculturalidade e multilinguismo.
Além dos projetos, a OEI realiza o Prêmio Ibero-americano de Educação em Direitos Humanos Oscar Arnulfo Romero e o Prêmio Cruzando Fronteiras, que reconhecem experiências pedagógicas exitosas. Ainda, em parceria com a Samsung, realiza o programa Solve for Tomorrow Brasil com foco na abordagem Stem (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática).
Temos consciência de que ainda há muito o que fazer. Acreditamos, porém, que o primeiro e mais importante passo é recuperar, a nível social, a admiração e o olhar sensível das crianças sobre esses profissionais, assim como na brincadeira de faz de conta, quando o personagem principal tem a grandiosidade de ser professor.
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