Editorial

Visão do Correio: O mundo à beira da recessão

Os novos bombardeios na Ucrânia promovidos pela Rússia acenderam o sinal de alerta no mundo. Se havia alguma expectativa de que essa guerra poderia estar perto do fim, agora, teme-se que o conflito ganhe proporções maiores, com ameaças de uso de armas nucleares se tornando mais presentes. O preço a se pagar por tanta destruição será enorme. A começar pela forte desaceleração da economia mundial. Acredita-se que uma possível recessão comece ainda no último trimestre deste ano na Europa, espalhando-se pelos Estados Unidos e engolfando vários países emergentes. Para variar, serão os mais pobres a sofrer com as restrições.

Até a metade deste ano, mesmo com todo o estrago provocado pela pandemia do novo coronavírus e pela guerra na Ucrânia, apostava-se numa razoável recuperação da economia mundial. Contudo, tanto a produção quanto o consumo passaram a sentir o baque da disparada dos preços da energia e dos combustíveis. Tanto que, em julho último, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu para baixo suas projeções para o avanço da economia global neste ano e no próximo. As estimativas baixaram, respectivamente, para 3,2% e 2,9%. Agora, o consenso nos mercados aponta para resultados ainda piores.

A previsão é de que o mesmo FMI anuncie ainda nesta terça-feira novas perspectivas para o PIB mundial. E não se descarta que o crescimento deste ano caia para 2,9% e o de 2023, para 2,5%. Se confirmados esses números, a atividade global irá se expandir abaixo do seu potencial. Para os Estados Unidos, por exemplo, a projeção é de incremento de 0,7% no ano que vem. Na Europa, fala-se em variação zero para o PIB. Por isso, os investidores globais estão retraídos e as bolsas de valores das economias mais desenvolvidas acumulam perdas significativas.

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Há, no entender de especialistas, uma combinação explosiva que levará a economia mundial à desaceleração: inflação no nível mais elevados em três décadas e juros nas alturas. Somado a isso, há o barril de petróleo, que voltou a ficar acima dos US$ 100, e as incertezas quanto aos estoques de gás na Europa para enfrentar o inverno que se avizinha. Os preços desse insumo não param de subir desde que a Rússia, o maior fornecedor para os países europeus, invadiu a Ucrânia. Empresas tiveram que reduzir ou mesmo parar a produção e famílias foram obrigadas a diminuir o consumo, inclusive de alimentos, pois o orçamento doméstico já não fecha, a despeito da ajuda dada pelos governos locais.

O Brasil, como sempre, não conseguirá escapar desse contexto desfavorável. Ainda que o país esteja mostrando uma boa resiliência, graças às exportações de commodities agrícolas, tende a sofrer com a perda de vigor da economia mundial, sobretudo se a China sucumbir. Neste mês de outubro, entre os dias 16 e 20, deverá se dar a reeleição de Xi Jimping, que se comprometeu a garantir crescimento econômico para o país entre 5% e 5,5% ao ano. O problema é que a nação asiática deve avançar apenas 3,3% em 2022, patamar insuficiente para manter a sensação de bem-estar entre os chineses. A China é a maior compradora de produtos primários brasileiros.

O enfraquecimento da economia chinesa já afeta países como África do Sul e Chile, grandes exportadores de minérios, assim como o Brasil. E deve se refletir sobre a indústria de bens de capital, o que significará menos investimentos produtivos no mundo e, por consequência, crescimento menor, mercado de emprego mais fraco e renda contida. Um quadro extremamente desafiador. Diante disso, governos terão de ser muito responsáveis para, ao mesmo tempo, atender as demandas sociais, sem comprometer a saúde das finanças públicas, criando esqueletos que vão assombrar mais à frente. Que todos tenham juízo. E isso vale, especialmente, para os eleitores.