Análise

Artigo: O gigante asiático

Sacha Calmon - Advogado

A Ásia reassume a relevância de três séculos atrás. É importante termos informações do cenário internacional, mormente de nossos parceiros comerciais. No particular a China vem em primeiro lugar. E como está a segunda potência econômica da terra? Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master de Investimento, graduado em economia pela FEA USP, é mestre e doutor em economia pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, instituição em que leciona desde 2002 e na qual foi coordenador do Mestrado Profissional em Economia e Finanças entre 2008 e 2010. Pois bem, vejamos o que ele nos diz: "O modelo chinês de crescimento seguiu a estratégia de sucesso do Japão do pós-guerra, da Coreia do Sul e de Taiwan dos anos 70 e 80, e da Malásia, da Indonésia e da Tailândia nos 90: exportações de manufaturas para a economia mundial. Transferência de trabalhadores do campo para o setor industrial com ampla ajuda e interferência do governo".

Foi um modelo de estrondoso sucesso no sentido de criar complexidade tecnológica, capacidades locais de produção, aumentos de produtividade e crescimento sustentado de renda per capita. A China passou para o grupo de economias sofisticadas do mundo em termos tecnológicos e se tornou a segunda maior economia do planeta.

A China tem conseguido prolongar seu processo de crescimento apesar das dificuldades da pandemia, da inflação mundial e da alavancagem de seu mercado imobiliário. Os últimos dados de crescimento mostram que ainda é o investimento agregado que puxa a demanda chinesa. As exportações têm contribuição mais fraca na margem, e o consumo cresce a taxas bem menores.

Claro que o governo chinês poderá continuar com sua estratégia de ondas de estímulos. Mas o modelo de crescimento chinês já não será capaz de gerar taxas tão elevadas como no passado. Hoje, com uma economia de US$ 15 trilhões, não será fácil colocar o montante de estímulos necessários para crescer a taxas elevadas.

Os lockdowns ligados aos casos de covid-19 e a superalavancagem do mercado de construções e residências dificultam o cenário de crescimento chinês. As elevadas taxas de crescimento do passado dificilmente se repetirão no futuro. O caso chinês é um extremo produzido por crédito direcionado e fortíssima intervenção estatal no sentido de criar infraestrutura (portos, rodovias, ferrovias e aeroportos), capacidade de produção industrial e construções residenciais e comerciais.

Representando menos 50% do PIB, o consumidor chinês ainda não é capaz de manter a economia crescendo a 7% ao ano. Se o setor de construção civil parar e o governo interromper os investimentos em infraestrutura, o crescimento chinês cairá rapidamente abaixo dos 4%. As elevadas taxas de crescimento do passado dificilmente se repetirão no futuro, mas a China nos garante seja como consumidora de bens alimentícios seja como investidora em nossa economia.

O que não se entende é a animosidade do presidente do Brasil em relação à China. Não faz sentido! Colocar-se como ideólogo num mundo que mudou muito desde 1950, sem que muita gente se dê conta, não se aplica aos líderes das mais de 200 nações hoje existentes.

A diplomacia econômica deve preocupar-se com as trocas internacionais sem ideologia (não está acontecendo isso!). O Itamaraty parece ter se apagado no governo de Bolsonaro ou ter sido paralisado por ele. O fato é que a diplomacia do Brasil sumiu em prejuízo de nós mesmos, ou melhor, do povo brasileiro. Mas a diplomacia é importante demais e teremos que reativá-la para que funcione, sem adotar ideologias, algo cada vez mais anacrônico!

O mundo moderno está aí. A Europa quis seguir a política americana e se deu mal. Os governos de esquerda extrema se danaram. É só ver Coreia do Norte e Cuba! Os de extrema direita como o de Orban na Hungria, também se isolaram!

Fato é que precisamos retomar o curso diplomático em busca de satisfazer o nosso papel no mundo, por imposição da modernização da economia mundial. Algo, porém, precisa ser dito. É que o Brasil além de ser pouco industrializado, notadamente por não ter ingressado nas tecnologias de ponta, tornou-se uma potência no agronegócio, onde precisará de investimentos. A área exige mais industrialização, ante a insensibilidade do governo Bolsonaro a uma visão absenteísta, com a retirada do governo de áreas essenciais.