OPINIÃO

Visão do Correio: "Percentuais que importam ao país"

Correio Braziliense
postado em 24/10/2022 06:00

O país que começa a semana de olho nos números das pesquisas eleitorais, a menos de uma semana da votação que definirá quem governará seus destinos pelos próximos quatro anos, precisa estar atento a outros percentuais que afetam a vida de seus cidadãos - entre eles os de um mal que lhe desafia há cerca de três décadas, e para o qual ainda não encontrou resposta. Depois de um ano de relativa trégua, a dengue voltou pesada, fazendo disparar o sinal de alerta em nível nacional para um adversário minúsculo, mas até agora invencível: o mosquito Aedes aegypti, que também transmite a zica e a chikungunya.

Em ação necessária e louvável em período dominado por uma espécie de paralisia eleitoral, o Ministério da Saúde lançou na última semana campanha nacional de combate ao vetor. A iniciativa não por acaso coincide com a chegada do período chuvoso, mas sua necessidade e urgência vão bem além disso, e podem ser explicadas em números.

Boletim divulgado há uma semana pelo ministério mostra que até o último período de monitoramento (40ª semana epidemiológica), o Brasil teve aumento de praticamente 185% nos casos prováveis de dengue em relação ao mesmo período de 2021. Péssima notícia para um país que ainda enfrenta demanda represada na saúde, diante dos procedimentos suspensos na época em que dar suporte às vítimas da pandemia era prioridade máxima.

Pior: diferentemente da covid-19, para as doenças transmitidas pelo Aedes não há vacina disponível de eficácia comprovada, embora haja substâncias em teste. O remédio que resta é combater o transmissor — tarefa que depende essencialmente do poder público, mas que não pode ser resolvida apenas por ele, como lembrou o ministro Marcelo Queiroga ao lançar a campanha nacional. "A epidemia da dengue existe há mais de 30 anos. Desde então, não conseguimos erradicar esse problema entre nós. Isso significa que não é uma atividade simples. Não temos vacinas para arbovirose, nem tratamentos específicos, então, a principal arma que nós temos é combater o mosquito.[...] Se não houver a colaboração da sociedade, todo ano vamos ter casos e casos de todas essas arboviroses."

Simbolicamente, a doença que desafia o país tem sua mais alta concentração neste ano na capital federal. Localizada na região de maior incidência da dengue em 2022 (o Centro-Oeste tem 1.921,2 casos para cada grupo de 100 mil habitantes), Brasília é a cidade com o maior número absoluto de prováveis infectados: 64.340, seguida de Goiânia, com 52.563 casos prováveis, e de Aparecida de Goiânia, com 23.278.

Região mais populosa do país, o Sudeste aparece neste ano em terceiro lugar em índice de incidência da dengue, com 498,1 diagnósticos prováveis para cada 100 mil moradores, atrás do conjunto dos estados do Sul (1.028,3 casos/100 mil hab.). Mas, embora não se destaquem na incidência, unidades da federação como São Paulo e Minas Gerais não devem ficar atrás em nível de alerta. Os paulistas enfrentam o maior número regional de casos: 341.931 doentes. Em segundo lugar, Minas apresentava total de 86.483 diagnósticos prováveis da doença segundo o último boletim da Saúde estadual disponível, do dia 10. Bem menos que o território vizinho, mas com uma alta de impressionantes 274% na comparação com o ano anterior.

O dado mais preocupante é o que mostra que mais de 900 pessoas perderam a vida apenas em 2022 em decorrência da dengue no país. Este ano, a Saúde nacional antecipou em mais de um mês o lançamento da campanha contra o mosquito transmissor, divulgada em 2021, em 30 de novembro. Espera-se que a antecipação tenha se pautado sobretudo nos critérios epidemiológicos e se traduza, de fato, em intensificação do combate ao Aedes e aos males que ele transmite, e em menos brasileiros doentes e mortos quando, finalmente, tenha se superado o calendário e as batalhas eleitorais.

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