EDITORIAL

Visão do Correio: Economia real longe do palanque

Correio Braziliense
postado em 19/10/2022 06:00

É lamentável que a campanha dos dois candidatos à Presidência da República não apresente soluções para graves problemas que o país enfrenta, como a gigantesca desigualdade social, a fome que assola mais de 30 milhões de pessoas, sendo cerca de 11 milhões crianças. Há ainda a regressão nos níveis de conhecimento na educação básica. E também um processo de desindustrialização que acentua a dependência de nossas exportações de produtos básicos, matérias-primas sujeitas a oscilações de preços no mercado internacional. Além dos dramas estruturais da nossa economia, no curto prazo pode haver uma bomba-relógio prestes a explodir logo após a escolha do novo chefe do Executivo no Brasil. Os indicadores apontam para uma desaceleração da atividade econômica e um reaquecimento dos preços.

Uma espécie de prévia do Produto Interno Bruto (PIB), o Índice de Atividade Econômica (IBC-BR) do Banco Central apontou queda de 1,13% em agosto em relação a julho, interrompendo dois meses de crescimento. O número, que busca antecipar o resultado do PIB, mostra o maior tombo da economia desde março de 2021. Havendo confirmação pelo IBGE, a desaceleração pode ser considerada reflexo do aumento da taxa básica de juros, que saltou de 2% em janeiro de 2021 para 13,75% atualmente. Taxas de juros altos sufocam a economia. É fato. E, mais, elevam o custo das dívidas, pesando sobre o batalhão de endividados que existe hoje no país. Nada menos que 79,3% dos lares brasileiros convivem com dívidas a vencer, sendo que entre as famílias com renda abaixo de 10 salários mínimos 80,3% estão com débitos em atraso.

O quadro pode se agravar nos próximos meses, com o estímulo dado pelo governo federal para que os beneficiários do Auxílio Brasil, que recebem uma parcela mensal de R$ 600, garantida efetivamente até dezembro, recorram ao crédito. A Caixa Econômica Federal informa que em apenas três dias foram liberados R$ 1,8 bilhão para 700 mil beneficiários do Auxílio Brasil e do Benefício de Prestação Continuada (BPC) com condições pelas quais as parcelas podem comprometer no máximo 40% do valor mensal recebido do governo federal, as prestações serão de no máximo 24 e a taxa de juros é de até 3,5% ao mês, ou 51,11% ao ano. Ontem, o Ministério Público, junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), solicitou a suspensão da concessão de crédito consignado do Auxílio Brasil pela Caixa.

Especialistas alertam que as famílias em condição de vulnerabilidade financeira vão se valer do crédito agora para cobrir gastos diários, mas quando o recurso acabar estarão diante de um rendimento até 40% menor, sendo que o custo de vida continuará pesando. A inflação continua encarecendo alimentos e gêneros de primeira necessidade para essa população, jogando os mais necessitados para o rol dos endividados. E isso no momento em que os preços podem estar acelerando novamente. Depois de três meses de deflação, os preços voltam subir. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) registrou alta de 0,26% na primeira quadrissemana e saltou para 0,42% na segunda quadrissemana deste mês.

O litro da gasolina, que vinha sustentando a queda da inflação, voltou a subir na semana passada, conforme revelou pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O valor médio do litro do combustível vendido nos postos do país foi de R$ 4,86, com alta de 1,46% em relação aos R$ 4,79 da semana anterior. Com os preços dos combustíveis reduzidos e represados por causa das eleições e a defasagem em relação ao preço de paridade internacional acima de 5%, passado o segundo turno das eleições, a Petrobras deve reajustar o valor de venda da gasolina e do óleo diesel para as refinarias. Caso ocorra esse aumento, o impacto será direto na inflação. Mais do que isso, indicará que efetivamente houve represamento para não interferir nas eleições, o que é péssimo para a imagem do país. Em 30 de outubro o novo presidente do Brasil estará eleito e terá pela frente problemas econômicos reais e não mais promessas de palanque.

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