Dentro de duas semanas, os brasileiros voltarão às urnas para eleger o próximo presidente da República. Quem quer que seja o vencedor terá de enfrentar desafios enormes, em especial, na seara econômica. Há uma nuvem enorme de incerteza rondando o mundo, que deixará uma margem mínima de manobra para que o Brasil entre nos eixos, a confiança volte, o crescimento ganhe força, o emprego e a renda apontem para cima e a pobreza, que tanto assusta, recue. Não será com bravatas que o país superará as adversidades.
A primeira grande questão a ser vista por quem estiver no Palácio do Planalto nos próximos quatro anos é a fiscal. Todas as projeções apontam para aumento do deficit público, elevação da dívida federal e gastos sem fontes de custeio. A proposta de Orçamento para 2023 que foi encaminhada ao Congresso não contempla uma série de pontos, a começar pelo financiamento do Auxílio Brasil de R$ 600, que não tem como ser revertido a curto prazo dada à frágil situação financeira das famílias mais pobres. Fala-se em um gatilho para bancar tal despesa, mas é preciso que tudo seja feito às claras para não gerar mais desconfiança.
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Aventuras fiscais sempre acabam mal, e a conta cai no colo dos contribuintes, seja por meio de aumento de impostos, seja pela péssima prestação de serviços púbicos. Não há escapatória. E a história recente está aí para confirmar como as estripulias com as contas públicas empurraram o Brasil para a beira do precipício, com recessão, desemprego e inflação. Não é aceitável que esse velho filme se repita a partir do próximo ano. O país precisa, sim, de equilíbrio e boa gestão dos recursos recolhidos da sociedade. Seguida essa cartilha, com uma âncora que não precisa, necessariamente, ser o teto de gastos, que já está furado, as intempéries externas tenderão a ser amenizadas.
Os donos do dinheiro sabem diferenciar gestões responsáveis. Num mundo ameaçado por guerras, ter um porto seguro como o Brasil faz a diferença. Além de ser celeiro do mundo, com uma agricultura pujante, o país tem um mercado de consumo promissor e um enorme potencial de investimentos em infraestrutura. Num contexto de previsibilidade e facilidades para os negócios, certamente o capital produtivo não se furtará de estender às mãos à economia brasileira. É isso que o próximo presidente da República deve ter em mente. O Estado terá de ser parceiro da recuperação, não um empecilho.
Os brasileiros estão ávidos por boas notícias. Há mais de uma década, o país se debate para sair do atoleiro. Os espasmos de crescimento criam falsas esperanças. Não à toa, boa parte da população se mostra arredia a propostas que não se sustentam na realidade. O Brasil é de uma diversidade impressionante, que requer uma visão ampla dos problemas. Bastam bom senso, bons projetos e decisões equilibradas para que a locomotiva entre nos trilhos. Todos, com certeza, têm muito a ganhar. Já se viu isso logo depois que o país conseguiu debelar a hiperinflação e adotou como princípio da civilidade econômica.
A partir de 2023, o Brasil dependerá cada vez mais de suas próprias escolhas. Não terá a seu favor os ventos do crescimento mundial. Muito pelo contrário. A tendência é de as principais economias do planeta, incluindo a China, jogarem contra. Felizmente, de um lado ou de outro, não há indicativos de que os rumos apontam pelo desastre. O país já sofreu demais, as sequelas dos desacertos estão abertas. Que todos tenham aprendido com os erros. O futuro é logo aí, resta saber se a opção será por chegar mais rápido a ele ou se ainda prevalecerão os atalhos. De puxadinho em puxadinho, os problemas se agigantam. Não é o que se quer. O Brasil merece o melhor. E ainda há tempo para isso.
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