REGINA ALVES - Pedagoga
Por estarmos atravessando ainda um momento delicado e desafiador como a pandemia, já era esperado, por toda a comunidade escolar, que os resultados sobre educação básica, lançados pelo Ministério da Educação e o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a respeito do último ano (2021) não seriam dos mais animadores.
Para equalizar o debate, lembro que os índices pré-pandemia já preocupavam. Levantamento de 2019, divulgado pelo próprio MEC e o Inep, mostrou que a porcentagem de alunos do 9° ano do ensino fundamental com nível adequado de aprendizado de matemática era 24,4%. Também é importante dizer que o Brasil foi um dos países que mais tempo ficou com escolas fechadas durante a pandemia, como expôs a Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), em um estudo do ano passado: comparado com a média de países ricos, o Brasil teve 178 dias (o triplo) a mais com alunos longe das escolas.
Mesmo com índices insatisfatórios, porém, é válido lembrar que havia, desde a série histórica do Ideb, certo avanço e, ano a ano, a educação básica brasileira apresentava melhorias. De volta ao presente, nos deparamos com números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2021, recentemente disponibilizados pelo MEC e Inep e que já estão dentro do contexto pandêmico, longos períodos sem aulas presenciais e todos os inúmeros problemas de desigualdade educacional que, exaustivamente, já sabemos e comentamos.
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Analisando apenas tecnicamente, os resultados de 2021 até podem ser comparados com os anteriores e nós, educadores, com certeza estávamos ansiosos para sabermos o quanto a pandemia efetivamente impactou o ensino de nossas crianças e jovens. Isso porque, desde o início do Saeb censitário, em 1995, foi possível construir um plano de melhoria da educação no Brasil e a criação de políticas públicas mais assertivas. Mas, ao ampliar a análise, acredito que comparar esses resultados com edições do passado seja contraproducente, porque estamos falando de especificidades e particularidades muito ímpares de cada região do país, o que por si só já dificulta um diagnóstico mais fiel à realidade brasileira.
Em 2021, 97% das escolas previstas participaram da aplicação das provas. Isso mostra o comprometimento de toda a comunidade escolar para a acareação desses índices e a segurança na aplicação e confiabilidade. Uma iniciativa louvável, a parceria com as escolas é fundamental para o sucesso desse projeto. Um país na dimensão do Brasil exige considerações em relação a esses dados e não tem lugar melhor que a própria escola para viabilizar o estudo, que vai nortear a tomada de decisão, devido ao acesso de informações do contexto, associado a esses resultados.
É muito importante valorizar e reconhecer a relevância do papel do professor e toda a comunidade escolar, que muito lutaram para manter o ensino em níveis consideráveis, ou evitar uma perda muito grande nos resultados de 2021 e que, embora considerável — falando especificamente de São Paulo, anos iniciais do ensino fundamental tiveram queda de 0,4 na pontuação — foi menos problemático do que imaginaríamos. Isso se deve ao acolhimento, escuta ativa e dedicação incansável de profissionais que minimizaram as consequências desse impacto, que poderia ser infinitamente maior.
Temos ciência de que devemos ter cuidado com as análises e comparações dos dados de anos anteriores com o de 2021, devido à pandemia e às condições que foram impostas, mas, analisando o atual cenário, podemos dizer que o 2º ano do ensino fundamental sofreu impacto mais evidente no processo de alfabetização — durante o período remoto -- e a matemática permanece a mais impactada no 5º ano do ensino fundamental e, nesse ponto, precisamos repensar nossas práticas didáticas e talvez o nosso currículo.
É preciso, mais do que nunca, assumir um compromisso de assegurar políticas públicas, não somente por parte do governo, mas também com movimentações de toda a sociedade civil que visem à interferência pedagógica necessária e recuperação de conteúdos e continuidade do plano de indicadores, que foram estabelecidos em 2007 no conjunto de metas. São tempos de esperança, no sentido tão bem colocado por Paulo Freire de esperançar, de se levantar e ir atrás, construir o futuro que desejamos, e não apenas esperar.
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