ELEIÇÕES

Análise: pesquisas de intenção de voto mesclam amor e ódio

A punição aos institutos de pesquisa precisa ser discutida com cautela e responsabilidade. Em meio a uma disputa de um segundo turno tão acirrado, considero prematuro o Congresso querer tocar neste tema agora

Roberto Fonseca
postado em 14/10/2022 06:00
 (crédito: Emily Morter/Unsplash)
(crédito: Emily Morter/Unsplash)

Polarização, radicalismo, intolerância política, engajamento. A eleição de 2022 vai se tornar um marco na ciência política. A disputa eleitoral deste ano tem tantas características simultâneas que me faz ter a certeza que será um tema estudado e analisado à profusão pela cátedra. Há, no entanto, um ponto que merece uma avaliação mais aprofundada: a demonização das pesquisas eleitorais.

Se até então os ataques às sondagens de intenção de voto ficavam restritos às redes sociais, com os erros registrados no primeiro turno em algumas unidades da Federação, a discussão ganhou força no Congresso. Partidos que saíram fortalecidos das urnas passaram a defender punição para os institutos de pesquisas que não acertarem o resultado. As penas podem chegar a 10 anos de prisão. Há até um movimento para a instalação de uma CPI.

Penso, entretanto, que o assunto precisa ser discutido com cautela e responsabilidade. Em meio a uma disputa de um segundo turno tão acirrado, considero prematuro o Congresso querer tocar neste tema agora. Longe de querer defender os institutos, mas as pesquisas nada mais são do que uma sondagem de intenção de voto. Não é o resultado em si. Veja, por exemplo, um dado que consta na pesquisa do Datafolha divulgada na semana passada.

Segundo o instituto, 10% dos eleitores disseram ter escolhido o candidato a presidente na véspera ou no dia do primeiro turno. É um percentual maior do que os que votaram em Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), que ficaram em terceiro e quarto lugares, respectivamente. É muita gente. Se aplicarmos ao universo de pessoas que compareceram às urnas, são quase 12 milhões que decidiram o voto em cima da hora. Número mais do que suficiente para modificar o cenário eleitoral. Dessa forma, não há como um instituto captar tal movimento, tendo em vista que não tivemos neste ano as tradicionais pesquisas de boca de urna.

Reconheço, inclusive, que as pesquisas eleitorais são superestimadas no Brasil. A mídia, de uma forma geral, dá muito destaque aos levantamentos em vez da discussão concreta de propostas. Mas isso ocorre porque dá audiência. O público tem interesse. Hoje, por exemplo, sairá mais uma pesquisa do Datafolha sobre a disputa presidencial e podem ter certeza que será um dos temas que nortearão as redes sociais mais tarde. No fim das contas, o brasileiro ama as pesquisas. E também odeia, principalmente se o candidato preferido estiver em desvantagem.

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